As festas de São João, São Pedro e São Marçal não são apenas eventos do calendário cultural. São formas de resistência simbólica que ajudam a manter vivas identidades ameaçadas. Em um mundo globalizado e pasteurizado, o ritual local se torna trincheira.
A teoria do habitus, de Pierre Bourdieu, explica que a cultura se inscreve no corpo. O menino que aprende a dançar quadrilha desde pequeno carrega esse saber por toda a vida. A cultura é vivida antes de ser pensada. Por isso, preservar essas festas é preservar modos de ser no mundo.
A Antropologia Pós-Colonial nos alerta para a importância de reconhecer essas práticas como saberes legítimos, não como folclore infantilizado. Os mestres de cultura, os tocadores, os brincantes são intelectuais orgânicos, como diria Gramsci. São eles que mantêm acesa a fogueira da cultura popular.
Neste de festas juninas e julinas, que nossas fogueiras não sejam apenas de comemoração, mas também de resistência. Que iluminem os rostos e os discursos. Que aqueçam as memórias e os futuros. Porque no calor das festas, pulsa o coração de um Brasil que insiste em ser mais que mercadoria: insiste em ser povo.
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Professora, escritora e pesquisadora das margens e dos silêncios, Emanuelle Nascimento costura palavras como quem observa rituais: com afeto, escuta e presença.
