Marília se separou recentemente. No mesmo dia, começou a destruir tudo que a fizesse se lembrar do Alberto. Fotografias, então, foram seus alvos prediletos. Ai do cretino aparecer ao lado. Tratava logo de rasgá-la ao meio. A banda com a imagem do patife era picotada e jogada no lixo. Na dúvida, tacava fogo, e as cinzas eram jogadas no vaso sanitário.
Tudo resolvido! A mulher foi tomar uma cerveja. Bebeu duas, três… Sorridente, adormeceu no sofá, até que acordou. Bexiga cheia, foi ao banheiro. Que alívio! O problema foi na hora de dar a descarga. Disparou. Pior. Vaso entupido, a água transbordou e inundou o banheiro e todo o apartamento.
Desesperada, Marília subiu na cama. Ficou ilhada. Olhou o celular sobre a cabeceira. Por impulso, telefonou para o dito cujo. Por conveniência, reatou o romance.
Ao ser despertada na manhã seguinte pelo toque do namorado, sentiu um misto de desejo e arrependimento. Olhou as horas e percebeu que havia dormido muito além do esperado. A corrida no parque ficaria para o final de semana seguinte.
— Te amo, Marília.
Ela nada disse, mas sorriu. Foi o suficiente para convencer Alberto. Quanto às fotografias rasgadas, Marília gastou uma fortuna com tanta revelação.
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Eduardo Martínez é autor do livro ’57 Contos e Crônicas por um Autor Muito Velho’ (Vencedor do Prêmio Literário Clarice Lispector – 2025 na categoria livro de contos).
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