Notibras

Fomos apresentados numa festa por um amigo em comum

Ah, minha amada, como te amei!

Lembro-me como tudo começou. Fomos apresentados numa festa por um amigo em comum, nem lembro quem. Murmuramos automaticamente “Muito prazer”, nossos olhares se encontraram – e se enredaram. Ficamos nos olhando em silêncio por algum tempo; depois, fomos para o terraço, para conversar.

Música, comida, bebida, drogas, amigos, conhecidos, desconhecidos, tudo desapareceu, só havia nós dois no apartamento. E no universo. Havia mil cumplicidades recém-descobertas, a explorar. Com sorrisos, palavras e toques, cada vez mais insistentes e insinuantes. E beijos, muitos.

Dali fomos pra teu apartamento, que ficava perto. Tirei tua roupa, tiraste a minha, e transamos por muito tempo. Eu me apaixonei de cara; tu, nem tanto; um pouco menos, talvez.

Os franceses, mestres nas coisas do coração, têm um ditado que diz mais ou menos o seguinte: “Um beija, o outro dá o rosto a beijar”. Eu beijava, claro; tu davas o rosto.

No início, em que te descobria um pouco a cada instante, isso não teve importância. A contrário, fascinava-me cada vez mais teu sorriso atrevido, desafiador, com que encaravas os desmandos de chefes no trabalho, galanteadores sem-noção, amantes ciumentos. Era a minha categoria, que só se manifestou algum tempo depois, mas então, veio com tudo.

Jamais te reprimi, nem em público, nem entre quatro paredes; mas meu coração apertava, e sofria em silêncio. Tinha consciência de que uma flor não pode reservar seu aroma para uma única abelha; mas era o que, no íntimo queria: que fosses uma flor de estufa, e só eu tivesse acesso a ela. Pouco a pouco o ciúme, o monstro de olhos verdes, cravou suas garras sujas em meu peito e entrou em nossas vidas, por meu intermédio.

Notei que percebias, que ficavas triste, menos solta, e isso me entristecia; mas não conseguia vencê-lo, monstros são terríveis. E soube que, por minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa, nossa separação era inevitável, estava escrita nas estrelas.

E hoje à noite, mais uma vez transamos. E, como sempre, foi uma delícia. Mas não adormeci em seguida, como costuma acontecer. Fiquei te observando dormir, os lábios semiabertos, com um leve ressonar; decorei cada centímetro de teu corpo nu, de teu rosto tranquilo após o gozo, como que para tê-los para sempre.

Ah, querida, teu lindo pescoço é tão frágil! E tão sonoro, fez um barulhinho ao quebrar… Dorme, minha amada.

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