Sabe aquela sensação única de ver a história acontecer bem diante dos nossos olhos? Pois é. Ontem eu senti exatamente isso. Foi um daqueles dias em que a gente sabe, na hora, que vai entrar pros livros, pras manchetes, pros debates das próximas décadas e, sobretudo, pra nossa memória afetiva como nação.
Os generais Augusto Heleno, Braga Netto, Paulo Sérgio Nogueira e o almirante Almir Garnier foram finalmente punidos por traírem a Constituição e o país que juraram defender. Estão presos pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado ao patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado. Não é pouca coisa. É simbólico, é profundo, é estruturante. Pela primeira vez na história da República, militares de alta patente são responsabilizados por conspirar contra a democracia. A impunidade, por tantos anos naturalizada nas Forças Armadas, finalmente encontrou um limite.
Ontem o país experimentou uma mistura de alívio, celebração e esperança. Esperança de que nunca mais vejamos comandantes militares usando o peso da farda para intimidar instituições ou sabotar a vontade do povo. Esperança de que nossas crianças cresçam em um país onde quartéis não sejam ambientes de deliberação política, e sim de defesa da soberania, como manda a Constituição.
Mas, ao mesmo tempo em que celebro esse avanço histórico, eu também sei: a justiça só será verdadeiramente completa quando todos eles perderem suas patentes. Porque não basta prender quem tentou rasgar a democracia. É preciso retirar deles o símbolo, o prestígio e o poder que usaram para tentar subverter o país. É preciso deixar claro, sem ambiguidades, que a patente não será nunca um salvo-conduto para a ruptura institucional. Ou as Forças Armadas estão do lado do povo e da democracia ou, então, estarão compactuando com golpistas.
Ontem foi um marco. Um divisor de águas. E que seja também um aviso, inscrito com todas as letras na história: jamais haverá espaço para aventuras golpistas no Brasil. Nunca mais.
