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Frustração e choro; brasiliense começa a acordar para realidade

No centro de Brasília, uma mulher andava com um chapéu amarelo, em forma de um copo de chope na cabeça. O Brasil acabava de adiar o sonho do hexa depois de sofrer uma goleada de de 7 a 1 da Alemanha. Outras pessoas só seriam vistas a três ruas dali, dois homens vestindo roupas escuras. Na capital, os trabalhadores e os estudantes foram dispensados das atividades para assistir ao jogo. A cidade, que já é conhecida pelos espaços vazios, estava ainda mais silenciosa depois da derrota.

Salvo os bares que apostaram em uma música pós-jogo, muitos estabelecimentos estavam esvaziados no plano piloto. Festas foram canceladas de última hora. A Polícia Militar (PM) do Distrito Federal está de prontidão, porque “não esperava esse resultado”. A assessoria de imprensa da PM informou que foram registradas brigas pontuais, sem vítimas, em estabelecimentos comerciais na Ceilândia, em Samambaia e no Paranoá. Um princípio de briga também foi registrado na Quadra 103 Norte.

“Depois do quinto gol, o bar começou a esvaziar”, conta a gerente do Libanus, Hévila Marinho, 28 anos, um movimentado bar da Asa Sul. Ela mesma, aos 20 minutos depois do fim do jogo pegou a bolsa para ir embora. “Vamos ver amanhã como vai ser [o movimento]. Por hoje, sem mais”.

Em uma das mesas, ainda com a cerveja cheia, os amigos José do Egito, produtor rural de 52 anos, e Lamberto Dias, empresário de 46 anos, resitiam bravamente à debandada. “A gente bebe porque precisa”, diz Dias. “Estávamos vivendo uma fantasia, agora vamos para a realidade”, sentencia Egito. Eles acreditam que o resultado vai ter consequência direta nas urnas. “Vai ser ruim para a Dilma”, acrescenta Dias.

A algumas quadras do Libanus, ainda na Asa Sul, o bar Simpsons era o oposto, cheio e barulhento. A pedida era a música Ô Lá em Casa, da dupla Léo e Junior. Quem estava ali, esquecia o jogo com o som sertanejo. “Pelo menos vocês estão levando numa boa”, diz a jornalista peruana Victoria Tardo, de 25 anos. Ela veio ao Brasil para a Copa, para torcer pela seleção brasileira: “Não tenho mais time preferido, só não quero que a Argentina ganhe, eles são muito metidos”.

Na Asa Norte, de locais com pouca atração, além dos sons e dos próprios telões, a freguesia se afastou logo. No Fausto e Manoel, poucas mesas ainda estavam ocupadas após o jogo, o que não aconteceu nos últimos jogos da seleção nesta Copa. Débora Morgana, 21, estava no Godofredo e disse que depois do sétimo gol da Alemanha muita gente saiu do bar. No Armazém do Silveira a debandada foi ainda mais cedo, entre o primeiro e o segundo tempo, com quase a metade dos frequentadores pedindo suas contas.

Continuando a beber em um dos locais onde a festa não parou, o estudante de medicina Bruno Henrique Costa, 24 anos, disse que esse tipo de coisa acontece no futebol, e é preciso ter paciência. “É triste, mas acontece. Podia ser uma derrota menor, mas quando uma equipe toma quatro gols em seis minutos, é o imponderável do futebol”, avalia Bruno, para quem o Brasil, apesar do placar, deu sim o melhor em campo.

Muito menos resignado, o jornalista Augusto Berto, 24, diz não ser capaz de explicar o placar. Ele afirma que já não tinha esperanças de que o Brasil saísse vitorioso do Mundial, mas “o problema foi como perdeu”. “A gente acabou de participar de um dos jogos mais vergonhosos da história da Copa. A gente tomou sete. Foi uma das partidas que daqui a 50, 60 anos, a gente vai ter que explicar para os nossos netos o que foi estar no Brasil neste dia. O brasileiro não está conseguindo ainda descrever o que houve no jogo. Foram sete gols, sete humilhações”.

Perguntado se o emocional foi preponderante para o resultado, ele desabafa: “Numa derrota de sete não tem só um ponto para explicar. É óbvio que o emocional dos jogadores não estava normal, pela obrigação de ganhar. Você vê que a própria Alemanha foi para a praia, dançou com o Olodum, cantou o hino do Bahia, eles estavam tranquilos. O emocional influencia, os erros influenciam, a postura tática, a escalação… Numa derrota de sete, são sete motivos para a gente apontar”, lamenta.

Na rodoviária de Brasília, por onde passam diariamente 700 mil pessoas, segundo o governo do Distrito Federal, poucos estavam no local após o jogo. Os ônibus saiam de acordo com a demanda. Viam-se muitos estacionados. Um grupo de seis pessoas assistiam às entrevistas após o fim do jogo na TV de uma lanchonete. O motorista de ônibus José Martins, de 57, preferiu ficar longe. “Não assisti. Não teve jeito mesmo”.

O Brasil agora disputa o terceiro lugar no Mundial, no dia 12, no Estádio Nacional de Brasília/Mané Garrincha. O adversário será o perdedor do jogo Argentina e Holanda, amanhã (9), em São Paulo, na Arena Corinthians, o Itaquerão.

Mariana Tokarnia e Paulo Victor Chagas, ABr

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