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Geisel jogou pesado e evitou o contra-golpe

Foto/Arquivo Notibras

José Escarlate

O clima a cada dia esquentava mais. Foi quando Geisel decidiu implantar a sua “Operação Degola”. Dela tomaram parte os gabinetes Militar, Civil e o SNI e membros do gabinete pessoal do presidente. A senha era “Dia da Criança”.

Contatados previamente pelo então coronel Gustavo de Morais Rego, os comandantes dos quatro Exércitos, sediados em regiões do país, e membros do Alto Comando foram chamados a Brasília, para aqui estarem na manhã do dia 12 de outubro. Claro que estava no ar alguma dissidência. O fato é que Frota soube do chamamento e convocou uma reunião do Alto Comando do Exército, na tarde do mesmo dia 12, no QG em Brasília, que chamávamos Forte Apache.

Feriado, dia da Padroeira da cidade, Brasília estava às moscas. Os clubes, cheios. A imprensa credenciada no Planalto estava presente. O número de repórteres era o dobro do normal, sinal de que a crise era grave, de consequências imprevisíveis. O clima, irrespirável. O canal de informações de que dispõe a imprensa é o mais rápido de que se tem notícia. Tudo em razão dos relatórios que os repórteres enviam diariamente para os jornais – o tal jornal falado -, dando conta da história real do dia-a-dia, quando nada podia ser publicado.

Cedo, Hugo Abreu ligou para o ministro dizendo que o presidente o convocava para uma reunião urgente, às oito e meia da manhã, em seu gabinete. Frota foi pontual. Na hora aprazada, ele chegava fardado ao palácio, pela garagem, subindo ao gabinete presidencial, na maior tranquilidade. Após um cumprimento seco, o choque foi inevitável. Geisel disse para Sylvio Frota que os dois já não estavam mais se entendendo e pediu-lhe que solicitasse exoneração. Frota, que esperava outro tipo de abordagem, menos ríspida, respondeu-lhe no mesmo tom, de forma dura:

”Exoneração eu não peço. Se quiser, o senhor que me demita”. ”Pois é o que vou fazer, agora” – respondeu o presidente. Ninguém assistiu ao curto e grosso diálogo, mas foi essa a versão passada aos jornalistas.

Vermelho, Sylvio Frota deixou o gabinete presidencial. Quem o viu, na garagem do Planalto, disse que ele estava abatido e desolado. Minutos depois, o general Hugo Abreu convocava os jornalistas e anunciava oficialmente a demissão do ministro do Exército. Indagado sobre o nome do sucessor de Frota, Hugo Abreu esquivou-se. “O próprio presidente já está mantendo contatos”.

Na sala de imprensa, fora o corre-corre para avisar aos jornais e fazer matérias, mais uma vez estávamos à mercê de uma possível desforra de Sylvio Frota. Barricadas foram colocadas em frente ao palácio. Os ônibus que vinham da Esplanada dos Ministérios não podiam dobrar à direita, em direção à avenida W-4. Foi bloqueado igualmente o tráfego de veículos na via fronteira ao Planalto, em plena Praça dos Três Poderes.

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