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Geisel tinha muito a fazer, e o repórter, em frangalhos…

José Escarlate

15 de março de 1974 – Com aquela obrigação de ter sempre olhos e ouvidos atentos, na cobertura da Presidência da República, eu procurava colocar-me sempre o mais próximo possível de Ernesto Geisel. O mais próximo permitido pelos homens do então coronel Arnoldi Pedroso, chefe da segurança.

Deixando o Congresso, fui para o Palácio do Planalto para a cerimônia de transmissão do cargo, pelo general Médici, entrega da faixa, parlatório e posse do ministério. Eu procurava sempre algo diferente para tirar da matéria o ranço oficial.

O tempo não estava bom, mas no Salão Branco do palácio o calor era abrasador. 0 Hospital Distrital ficou toda a semana em regime de prontidão permanente, com oito apartamentos e quatro leitos de UTI bloqueados. Até o tempo que seria gasto por uma ambulância no percurso até o hospital foi cronometrado.

Felizmente, o único acidentado foi o senador Daniel Krieger, que levou um tombo em casa. Atendido, foi liberado, mas proibido pelos médicos de ir à solenidade.

Após o rígido protocolo, o primeiro a chegar em Geisel foi o novo ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen, que apresentou a ele sua mulher, Iluska. A filha do presidente, Amália Lucy, era a mais descontraída, assim se mantendo até o final do governo. Era amiga dos jornalistas.

Tendo ao lado a primeira dama, Geisel disse ao ministro Jorge Ribeiro, chefe do Cerimonial, que precisava ir embora: “Tenho muito trabalho a fazer”. Ao ouvir a afirmativa do marido, Dona Lucy, espantada, indagou meio angustiada: “E eu, com quem vou?” Sereno, Geisel resmungou: “Calma. Vai comigo, claro”. E embarcaram no Laudau negro, rumo ao Palácio da Alvorada.

À noite, compareceu à recepção no Itamaraty e às 8 da matina do dia seguinte já estava na Base Aérea, para despedir-se de Pat Nixon. E o boneco aqui, caindo pelas tabelas.

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