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Graciliano Ramos, um autor extremamente necessário

Nosso retratado de hoje era alagoano, de Quebrangulo, onde nasceu a 27 de outubro de 1892. Tinha 1,75m de altura, calçava 41, casou-se duas vezes e teve 7 filhos. Fumava três maços de cigarros “Selma” por dia e, apesar de ateu, o livro que mais lia era a Bíblia.

Escreveu vários livros importantes para a cultura brasileira. É quase voz unânime de que “Vidas Secas” é o maior deles. Mas seu próprio autor desconfiava que sua obra não teria qualquer posteridade, e que seria esquecido. Enganou-se.

Vamos um pouco mais em direção ao passado.

Considerado modernista, nosso autor achava cabotinos a maioria dos pertencentes ao grupo. E se esquivava deles dizendo que, durante a Semana de Arte Moderna, encontrava-se bem longe de São Paulo, vivendo no sertão alagoano, vendendo chita no balcão de uma loja. Não pertencia ao “movimentozinho”.

Mais tarde, alguns anos após ficar viúvo da primeira esposa, que morreu em decorrência de complicações do parto do quarto filho do casal, foi eleito prefeito de Palmeira dos Índios, promovendo várias melhorias na cidade. Conheceu sua segunda esposa quando esta viajou para a cidade a fim de assistir às primeiras missas oficiadas por um primo que fora ordenado sacerdote. Por ela, o nosso retratado fazia o sacrifício de ir às missas de domingo. Os feitos na edilidade fizeram-no escrever dois relatórios ao governador de Alagoas, que possuíam grandes qualidades literárias.

Tendo posto os olhos nesses documentos, Augusto Frederico Schmidt (1906-1965), poeta e editor carioca, mandou perguntar ao seu autor se ele possuía outros originais para publicar. Foi assim que nasceu “Caetés”, seu primeiro romance publicado, em 1933.

Ele mesmo não gostava desse livro. Contava que fora produto de desencontros e atrasos entre ele e Schmidt, e acabou saindo contra sua vontade.

Depois, vieram outros importantes livros, dentre eles “Angústia”, “Insônia”, “São Bernardo” e “Vidas Secas”. Aqui abro um parêntese para dizer que, na opinião do velho escriba que vos fala, “São Bernardo” é uma das obras mais fabulosas da literatura mundial.

Seu destino de escritor estava definitivamente selado. Mas, sendo difícil viver de literatura, arrumou um emprego público de inspetor de ensino, função que desempenhou ao longo da vida.

Preso arbitrariamente pelo governo de Getúlio Vargas (1883-1954), em 1936, amigos como o próprio Schmidt e José Lins do Rego (1901-1957) empenharam-se em sua libertação. O período de pouco mais de 10 meses de detenção por questões ideológicas e políticas, inspirou-lhe a escrever “Memórias do Cárcere”, publicado apenas postumamente.

Visitou a União Soviética e a Tchecoslováquia entre abril e junho de 1952, tendo sido desde 1945 um membro do Partido Comunista Brasileiro. Durante a viagem, sentiu dores no peito que fizeram-no suspeitar de tuberculose, mas era o carcinoma de pulmão que, operado em Buenos Aires, acabou causando a morte do escritor menos de um ano depois, em 20 de março de 1953, quando morava na Rua Desembargador Alfredo Rússel, 62, no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro.

Seu nome era Graciliano Ramos de Oliveira.

Chamado pelos amigos de “Velho Graça”, deixou um legado marcado pela concisão, pela lucidez crítica e por uma visão profundamente humana do Brasil e de sua gente, prova definitiva de que sua obra não apenas sobreviveu, mas permanece absolutamente necessária.

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Cassiano Condé, 82, gaúcho, deixou de teclar reportagens nas redações por onde passou. Agora finca os pés nas areias da Praia do Cassino, em Rio Grande, onde extrai pérolas que se transformam em crônicas.

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