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Halloween é a vida entre o Véu e as Sombras

Há uma noite, em todo o calendário – o 31 de outubro -, em que o tempo parece suspenso — quando a brisa outonal sopra lembranças antigas e os portais entre o visível e o invisível se abrem, sutilmente, como cortinas de névoa. É o Halloween, celebração de máscaras, sustos e doces, que carrega em si o eco distante de rituais ancestrais e o fascínio humano pelo mistério da morte.

A origem dessa festa remonta ao Samhain, o festival celta que marcava o fim da colheita e o início do inverno. Naquela época, acreditava-se que os espíritos dos mortos retornavam para visitar os vivos. Fogos eram acesos nos campos frios, oferendas deixadas nas portas, e os druidas — sacerdotes das antigas tribos — consultavam as chamas para prever o futuro. O Samhain não era apenas um tributo à morte, mas um gesto de reverência ao ciclo natural das coisas: o fim que prenuncia o recomeço.

Com o avanço do cristianismo, o paganismo foi sendo moldado e absorvido. O Samhain tornou-se o All Hallows’ Eve, a véspera do Dia de Todos os Santos, instituído pela Igreja para celebrar os mártires e afastar as superstições. Mas o imaginário popular resistiu — as abóboras, os fantasmas, as bruxas e os duendes permaneceram, disfarçados sob o manto da nova fé.

Séculos depois, o Halloween cruzou o Atlântico com os imigrantes irlandeses e encontrou, na América, solo fértil para florescer. Lá, tornou-se espetáculo e diversão: desfiles iluminados, crianças mascaradas batendo às portas em busca de doces e adultos transformando o medo em fantasia. Hollywood cuidou do resto — multiplicou os monstros, eternizou as casas assombradas e fez do 31 de outubro um ritual global de sustos e sorrisos.

Hoje, o Halloween ultrapassa fronteiras e reinventa-se em cada canto do mundo. No Brasil, ganha tons tropicais e festas temáticas, mistura o sombrio com o carnavalesco, o sagrado com o profano. Meninos e meninas vestem-se de vampiros e fadas, enquanto bares e escolas se enchem de teias de plástico e luzes roxas. É uma noite em que o medo se torna lúdico, e a fantasia, um passaporte para o impossível.

Mas por trás das máscaras e das abóboras luminosas, persiste o mesmo encanto ancestral: o desejo humano de compreender o desconhecido. O Halloween, afinal, não é apenas sobre monstros e doces é sobre o mistério da passagem entre mundos, sobre a tênue fronteira entre o que somos e o que tememos ser.

Quando as velas se apagam e o silêncio retorna, resta a sensação de que, por um instante, o tempo antigo nos visitou — e, sorrindo nas sombras, voltou para o outro lado do véu.

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