Depois do fim das sanções impostas pelos Estados Unidos ao ministro Alexandre de Moraes, por meio da chamada Lei Magnitsky, muitos brasileiros correram para os perfis oficiais da Casa Branca e do presidente dos EUA, Donald Trump, para manifestar indignação, frustração e um descontentamento quase teatral com a decisão.
Há de tudo nessas manifestações. Alguns dizem estar profundamente decepcionados, outros lamentam que o Brasil tenha sido “abandonado à própria sorte”, como se fôssemos um país tutelado, incapaz de conduzir seu próprio destino. Há também uma coleção de delírios variados, que misturam ressentimento, teorias conspiratórias e uma expectativa infantil de intervenção externa.
Antes de qualquer coisa, penso que algumas pessoas precisariam se dar a devida desimportância (risos). É no mínimo ingênuo, para não dizer patético, imaginar que uma mensagem agressiva, escrita em português ou em um inglês capenga, postada nas redes sociais contra o presidente dos Estados Unidos, vá soar como algo além do desabafo de alguém com problemas cognitivos ou, no mínimo, sérias dificuldades de compreensão da realidade política internacional.
Mas não é exatamente essa a mensagem que eu quero deixar aqui. O ponto central é outro, e ele é bem mais sério. O que realmente me preocupa é essa crença quase messiânica de que algum país estrangeiro ou algum líder de outra nação virá nos salvar do que quer que seja. Não vai. Nunca veio e nunca virá. Os nossos problemas são internos, dizem respeito à nossa história, às nossas escolhas e às nossas instituições. E, gostemos ou não, só nós podemos resolvê-los.
Se você acha que o Congresso Nacional não te representa, a resposta não está em Washington, está nas próximas eleições. Se acha que um voto individual não tem valor, então vá além dele: seja militante de uma causa, convença pessoas, dialogue, se organize, filie-se a um partido político que represente minimamente a ideologia em que você acredita. E se não acredita em política partidária, tudo bem: organize-se enquanto comunidade, atue em movimentos sociais, lute pelos valores que você considera inegociáveis.
O que não dá é terceirizar a responsabilidade histórica e política para potências estrangeiras, esperando um salvador da pátria de fora. Isso nunca funcionou e nunca funcionará. A democracia é um processo coletivo, imperfeito, cansativo e, muitas vezes, frustrante. Mas é nosso.
Heróis só existem nos filmes. Na vida real, as mudanças são feitas por pessoas comuns, organizadas, persistentes e conscientes de que a realidade é sempre muito mais complexa do que qualquer fantasia de redenção externa.
