Notibras

Hora de conhecer prazer, sarcasmo, bom humor e carinho de Gilberto Motta

Hoje desvendarei O LADO B DA LITERATURA do talentoso Gilberto Motta, certamente um dos mais prolíferos escritores do Café Literário aqui no Notibras. Para iniciarmos, vale aqui uma frase do próprio Gilberto, paulista de nascimento, hoje desfruta da bela praia Guarda de Embaú, em Palhoça-SC: “Escrevo para continuar respirando sem jamais perder o prazer, o carinho, o sarcasmo e o bom humor”

Caipira de Sertãozinho, região de São José do Rio Preto-SP, Gilberto tem muitas histórias para contar desde o seu nascimento, há 68 anos:

“O Circo de meus pais estava de passagem pela pequena cidade. Circo Teatro Motinha e Nhá Fia e depois Circo Teatro Pérola (Fotos). Cirquinho mambembe com espetáculo dividido em três partes: picadeira com números acrobáticos, trapézio, o Táxi Maluco e palhaços, inclusive eu com 5 anos (Esticadinho), e meu irmão Mário, 11 anos (Pernalonga). Na segunda parte do espetáculo, a peça teatral (dramalhões, aventuras, comédias, etc.) E fechando, o Show radiofônico, com minhas primas e primos, tios e tias, eu e o mano, comandados pela dupla que já foram famosos na Rádio Bandeirantes de SP (anos 40 4 50-capital), Motinha e Nhá Fia (Foto de nossos pais). No Circo vivi a primeira infância até os 8 anos. Ali aprendi a magia de viver em uma tribo/comunidade. E outras artes: a cantar, tocar violão, atuar como ator mirim nas peças, ser palhacinho e a falar em microfones fazendo propaganda do circo nas ruas. Em cada cidade por onde passamos com o nosso Circo, meus pais deixaram um banco de concreto na praça central como certificado de nossa gratidão.”

Mas nem tudo são flores, como prova o relato do nosso querido escritor, haja vista as consequências do Golpe de 1964 e a Ditadura Militar:

“Em 1964 veio o golpe e a ditadura. Nossos pais decidiram parar com a vida circense e compraram um pequeno hotel na cidadezinha de Tupã, oeste paulista. Veio o tempo de aprender a viver “em um só lugar”. Difícil para quem nasceu nômade e continuaria pela vida afora pela estrada. Em Tupã, por 15 anos, reaprendemos a viver como pessoas “normais”. Em plena ditadura militar. Fiz o grupo escolar, o ginasial e o científico. E sempre ligado às artes. Na Rádio Piratininga de Tupã, o mano Mário e eu seguimos os passos de nossos pais e muito jovens já fazíamos programas de variedades, música, entrevistas e radiojornalismo. Jamais deixamos o Circo (que ficaram com nossos tios Salim e Joaninha), onde passávamos as férias de verão. Neste período, os anos incríveis de 60/70, compus minhas primeiras canções e escrevi os versos para canções e também as primeiras redações, depois crônicas e contos. Futebol, Tênis Clube, Banda de Iê Iê Iê/rock/tropicália (Foto), namoros inesquecíveis, primeiras desilusões e revoltas. Ditadura pesada na fase mais de chumbo, anos 70. A única saída: deixar a família e ir viver em São Paulo, capital, fazer o cursinho Objetivo para o Vestibular, etc., etc., etcétera e tal.”

O nosso herói das letras, durante o período de 1978/79, em Sampa, após um ano de cursinho, foi fazer Medicina. No entanto, após meio semestre, foi fazer vestibular para a Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero.

“Aprovado, larguei o futuro jaleco de médico e parti para o jornalismo e tudo o mais que me aguardava. Movimento estudantil reativo contra a ditadura, pelas Liberdades Democráticas, Anistia, Diretas Já, formação do grupo satírico musical Língua de Trapo (com a minha turma da Cásper Líbero), Festivais de Música, movimento Vanguarda Paulista, Teatro Lira Paulistana, estágios na Rádio Jovem Pan, Cidade, Jornal de Pinheiros….Ufa!”

Creio que você que está me lendo neste momento também deve estar boquiaberto com a saga do Gilberto Motta. Parece até que ele viveu todas as vidas possíveis e mais algumas. Seria ele uma espécie de Ulisses vivendo a odisseia dos tempos modernos? Mas espere, que tem mais revelações.

“Em 1982, termino o curso de jornalismo na Cásper Líbero e, junto com Sonia, minha mulher grávida de oito meses, tocamos a vida para Lages SC, onde meu mano Mário já estava bem centrado dando aulas de Educação Física e trabalhando com comunicação. Fomos ajudar a fundar a TV Planalto, região Serrana catarinense. Bem, Cassiano, daí para a frente assumi a minha vida adulta como um “homem de comunicação” fazendo rádio, jornais, TV RBS e depois Globo até me transferir para Florianópolis (1985) para fazer por 8 anos os programas Campo e Lavoura (RBS TV) e outros junto aos agricultores e pescadores e famílias rurais. E sempre escrevendo. Jamais parei de escrever.”

Desse tempo, vamos dar um salto na saga do Gilberto. “Ripa na chulipa, pimba na gorduchinha!”, “E que goool!”, “Parou por quê, por que parou?” e “Tiro-lirolá, tiro-liroli”. “Animal!” Pois é, o nosso mestre da literatura foi trabalhar justamente com outro mestre, o Osmar Santos.

“Após 10 anos em Florianópolis, retorno a São Paulo para dois na equipe de esportes de Osmar Santos na TV Record. Novo retorno a Florianópolis onde integro uma equipe multidisciplinar na Universidade Federal de SC para produção de vídeo aulas para o novo veículo que surgia então, a internet (1994). Faço o Mestrado em Engenharia de Produção (o Impacto das redes sociais e a internet nos meios de comunicação) e recebo convites para dar aulas de jornalismo e PP na Univali, Facvest, Unochapecó e Unoesc. Virei docente (putz!!!). Ao final dessa trajetória, aposentei-me em 2022, separei-me de minha quarta companheira, Angela, e decidi retornar (o eterno retorno do Nietzsche…rssss) a SC, onde vivem minhas filhas, netos e meu amado mano Mário (hoje deputado estadual depois de ser, por 38 anos, o âncora do Jornal do Almoço da RBS Globo TV daqui SC). Decidi vir morar sozinho na Guarda do Embaú (Foto), pequena comunidade pesqueira e turística pertinho de Florianópolis (45 km). Mora há 3 anos em uma pousadinha tranquila de onde escrevo meus “rabiscos” como sempre fiz (e farei) por toda a minha vida. Crônicas, contos, roteiros… e publicações, prêmios e leitores que, ao lerem, finalizam aquilo que sinto, reinvento e escrevo. E precisamos de mais do que apenas saúde, tesão de viver, desafios e uma pequena cabana, à beira do rio da Madre e das águas azuis do Atlântico? Forte abraço e gratíssimo pelo carinho e visibilidade.”

Confesso que retratar o escritor Gilberto Motta foi uma das melhores coisas que me aconteceu nos últimos tempos. Espero que você também tenha gostado, pois até a minha colega Cecília Baumann, a Ceci, concordou.

— Condé, os textos do Gilberto são repletos de curiosidades gostosas de serem lidas.

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Cassiano Condé, 81, gaúcho, deixou de teclar reportagens nas redações por onde passou. Agora finca os pés nas areias da Praia do Cassino, em Rio Grande, onde extrai pérolas que se transformam em crônicas.

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