Ontem o mundo inteiro ficou estarrecido ao tomar conhecimento da denúncia de que Greta Thunberg, a ativista sueca, estaria sendo torturada pelo Estado de Israel.
Não posso afirmar com certeza que isso seja verdade (ao menos por enquanto, é denúncia) mas, se for confirmado, será outro capítulo brutal de impunidade. E, diante disso, não consigo me conter: é preciso gritar com indignação, não menos veemente do que a que esse mesmo mundo, com tanta omissão, permitiu diante da tortura e da morte de milhares de crianças palestinas.
Pense comigo: Greta é branca, europeia, ainda jovem, “uma menina”, como muitos diriam. E é exatamente esse perfil que, lamentavelmente, parece despertar mais atenção global. Quando se fala de violência contra populações palestinas, a reação muitas vezes é morna, fragmentada, invisível ou relativizada. Mas, quando a vítima tem “o rosto certo”, as manchetes se multiplicam, as redes fervilham, líderes europeus escorregam em discursos públicos.
Se as acusações contra Israel forem verdadeiras, que isso desperte não apenas a fúria pelos horrores cometidos contra Greta, mas também uma reflexão que vá além: por que não houve choque nas dimensões que merecem, quando crianças morreram de fome, de bombas, por sede, por desespero, em Gaza?
Ontem, senti uma fúria desmedida, uma vergonha coletiva. Porque, como bem sabemos, a brutalidade, a violência de Estado, a tortura, acontecem todo dia em Gaza. Que essa denúncia se confirme ou não, que ela sirva ao menos para nos forçar a olhar para todas as vítimas com a mesma indignação, sem filtros de cor, de nacionalidade, de proximidade. Hoje, Greta, mas amanhã, que nenhuma criança, nenhum povo, fique fora da nossa indignação.
