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Ibaneis vê ficha cair e contra-ataca a teoria da conspiração

Os futuros ministros da Justiça, Flavio Dino, da defesa, José Múcio Monteiro, e o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, falam à imprensa

Por mais sereno que seja quando veste o terno bem costurado de governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB) estava impedido, inabilitado, incapacitado de exercer o Poder na tarde do domingo em que a Praça do Três Poderes foi literalmente incendiada e depredada por terroristas bolsonaristas.

Sinônimos entre si, os adjetivos acima definem no verbo presente do indicativo a situação do governador afastado do cargo nos primeiros minutos da segunda-feira, 9, horas após os atos golpistas. Foi um dos remédios encontrados pelo ministro do Supremo, Alexandre de Moraes, para responsabilizar alguém. Outro purgante – esse fundamentado – foi decretar a prisão de Anderson Torres.

Os motivos que levaram o governador a ficar ‘sem chão’ podem ter sido muitos. Inclusive crise de pânico provocada por ato de traição de pessoas da sua mais estrita confiança. Isso por mais equilibrado que ele seja emocionalmente, embora eventualmente com ares de presunçoso, quando está devidamente engravatado.

Não tenho procuração para defender o governador. Primeiro, por não ser jurista; segundo, por ser por ele considerado, equivocadamente, um desafeto. Mas, na condição de repórter, tenho fontes da mais alta credibilidade.

Pode-se assegurar, por exemplo, e sem medo de errar, que se o pessoal da estrela vermelha que substituiu a equipe do presidente fujão tivesse sido enérgico já no dia 1º, jogando duro com a turma das quatro estrelas, tudo isso poderia ter sido evitado.

Não foram poucas as vezes em que as forças auxiliares de Brasília, aí incluídas as polícias Militar e Civil, o Corpo de Bombeiros e equipes de arrastão do DFLegal, tentaram desmontar os acampamentos dos golpistas no QG do Eixo Monumental. Mas o Exército, com seus carros de combate e artilharia pesada que incluía canhões de 105mm, negou a entrada de quem previa e temia, com justa razão, os atos de vandalismo que vieram a seguir.

Os militares verde-oliva, ainda acreditando na teoria da volta por cima de Bolsonaro, disseram não aos emissários do Palácio do Buriti. Utilizaram como argumento que a área do entorno do QG era sua jurisdição e, consequentemente, sua responsabilidade.

Voltemos ao cenário do dia 8, quando foi dada a largada para uma verdadeira teoria da conspiração. A tarde mal começava quando a horda bolsonarista entrou em ação. Ao mesmo tempo, em sua casa no Lago Sul (nunca é demais lembrar que Ibaneis, para economizar dinheiro público, reside em sua própria mansão, evitando gastos do Erário com a ocupação da residência oficial de Águas Claras) recebia a vice-governadora Celina Leão (PP).

A conversa foi breve – até porque o tempo era exíguo. Resumidamente, o governador determinou à sua vice duas ações imediatas, em caráter de urgência urgentíssima: 1) deslocar todo o efetivo de segurança pública (convocando inclusive o pessoal de folga) para a Esplanada dos Ministérios e Praça dos Três Poderes, com ordem explícita de usar a força para conter os golpistas; 2) ir ao Ministério da Justiça e dizer ao ministro Flávio Dino, que os poderes local e federal deveriam unir esforços para acabar com a baderna.

Na saída para supostamente cumprir as ordens recebidas, Celina cruzou e sorriu, ainda nos jardins da residência de Ibaneis, com dois dos assessores mais próximos do governador. O objetivo da dupla era convencer o chefe a fazer uma declaração pública. Ibaneis, visivelmente abalado com o quadro que se apresentava em tempo real nas emissoras de televisão, relutou num primeiro momento, dizendo ter confiado à vice as providências necessárias.

Mas, à medida em que a depredação avançava sem quaisquer represálias das forças de segurança, que mantinham contingente ínfimo na região onde estavam os golpistas, a ficha foi caindo junto com o sol que se escondia no horizonte. Ibaneis, finalmente convencido por seus assessores, despiu-se da bermuda e camiseta regata, pegou aleatoriamente um terno, gravou o famoso vídeo em que se desculpava, principalmente junto a Lula, pelo que estava acontecendo em Brasília, e tomou as rédeas do comando.

Ibaneis deu ordens com voz firme, conforme revelou a Notibras nesses últimos dias, um daqueles dois assessores. Havia, a partir daí, quem mandasse. Prisões foram efetuadas, a baderna acabou, mas o estrago estava feito.

Passados 30 dias dos episódios que tentaram manchar a democracia brasileira, novos fatos vêm à tona, agora mais de caráter político. Um texto sem pé nem cabeça, embora bem produzido seguramente por pessoas ligadas a Celina Leão, expõe as vísceras de empresário teoricamente falido. A matéria, que circula em grupos de WhatsApp com a velocidade da internet banda-larga, envolve um senador da República, um deputado federal recém-eleito e ‘figuras do alto escalão’ do Palácio do Buriti. Contudo, no caso do GDF, na hora de dar nome ao bois, o gado responsável pelo texto abandona o plural e recorre ao singular.

Macaco velho do jornalismo, do alto dos meus cinquenta e uns anos de profissão, identifico, aí, uma ação para desestabilizar Ibaneis Rocha. Sem procuração dele (reitero) entendo que o governador afastado é vítima de conspiração para tentar tirá-lo definitivamente do cargo. Não existe uma mera teoria conspiratória. Talvez por fazer a mesma leitura, Ibaneis, por meio dos seus advogados, está prestes a ingressar com um pedido para que Alexandre de Moraes reconsidere o prazo do afastamento dele, devolvendo-lhe as chaves do Palácio do Buriti, que lhe foram confiadas pelo eleitor brasiliense para um segundo mandato, em primeiro turno, nas últimas eleições.

Afora isso, seria conveniente – a título de sugestão – que as autoridades responsáveis pelas investigações dos atos terroristas tirassem os olhos dos quartéis da PM, onde buscam bois de piranha, como se os batalhões estivessem nas profundezas do Lago Paranoá. Até porque, militar, independente da patente, existe para receber ordens superiores. Portanto, o caminho a seguir deve ser outro. Se, hipoteticamente, o Cerrado tivesse uma área de preservação comparada às savanas africanas, seria possível descobrir, rapidamente, o animal que comanda sua alcateia sempre seguida por hienas. E sobrevoada por urubus. Feito isso, as investigações chegariam o fim.

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