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Ida a mercado sem sacola dá dor de cabeça benéfica

Ontem precisei ir ao mercado. Coisa rápida, pensei. Só uns itens básicos: pão, leite, banana e aquele biscoito que eu finjo comprar pra criança, mas que, misteriosamente, desaparece dentro da minha bolsa antes de chegar em casa.

Estacionei longe, como sempre. Não por escolha, mas porque Brasília foi claramente projetada por alguém que achava que todo mundo tinha helicóptero. Ainda assim, pensei: “tudo bem, estou precisando me movimentar um pouco mais mesmo”. E lá fui eu, saltitante em direção ao supermercado, como quem vai fazer algo produtivo e adulto.

Peguei o carrinho, conferi mentalmente a lista que já estava esquecida e comecei a jornada pelos corredores. Tudo transcorria normalmente até o momento fatídico do caixa. A moça, simpática, olhou pra mim e perguntou: trouxe sacola?

Foi como se tivesse me perguntado se eu lembrava de apagar o fogão.

Aí veio o flashback cinematográfico: as sacolas reutilizáveis no banco de trás do carro, dobradinhas, descansando, prontas pro momento de glória que nunca veio. Elas estavam lá. Eu não.

Aqui em Brasília, como você bem sabe, sacolinha plástica virou quase contrabando. O uso é desestimulado, e os mercados sequer podem oferecer gratuitamente. O que é ótimo para o planeta, claro. Só não é ótimo para pessoas como eu, que têm memória seletiva: lembro da música que tocava na minha festa de 15 anos, mas não lembro da bendita sacola.

Quer comprar uma ecobag? perguntou a atendente, com aquele olhar que mistura pena e julgamento.

Sem a sacola, eu sairia do mercado parecendo estar em uma performance artística sobre o consumismo. Uma banana debaixo do braço, o pão abraçado contra o peito, o leite equilibrado entre o queixo e o ombro.

Moral da história: eu comprei mais uma sacola reutilizável. Agora tenho 74 em casa. Só preciso lembrar de levá-las.

Mas tudo bem. Pelo menos me movimentei. E o planeta agradece.

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