Marília era um típico caso de mulher que vive sob as próprias regras, o que, não raro, era visto com olhares desconfiados dos que não se conformavam com tantas liberdades vindas de alguém que, perante a sociedade, deveria ser poço de recato. Hum! Olegário, ex-marido, gostava de enaltecer os bons costumes.
— Marília, você deveria ouvir as palavras do Temer.
— Temer? Tá falando do traíra?
— Ih, lá vem você com essa história de que foi golpe.
— Olegário, basta ter um mínimo de inteligência pra saber que foi.
— Tá bom, Marília! Mas você deveria ao menos consideração com o que o homem disse a respeito da esposa.
— E o que foi?
— Que a esposa dele era cheia de predicados.
— Ah! Pra você ver, né, Olegário?
— O quê?
— Ué, que aquele sujeito não é muito afeito à língua portuguesa.
— Tá com inveja, é?
— Inveja? Eu?
— Tá, sim!
— Olegário, e desde quando vou ter inveja de um cara que não sabe a diferença entre predicativo do sujeito e predicado?
— O quê?
— Ué, isso mesmo! Predicativos atribuem qualidade, estado ou condição ao sujeito. Já predicado é tudo aquilo que não é sujeito.
— Ih, lá vem você com essas regras de português que ninguém precisa saber.
— Ah, que saudade, Olegário!
— Saudade do quê?
— De ontem.
— Ontem?
— É. Ontem.
— Por quê?
— É que ontem eu ainda não tinha ouvido mais essa bobagem saída da sua boca.
………….
Eduardo Martínez é autor do livro 57 Contos e Crônicas por um Autor Muito Velho’
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