Notibras

Instantes

Neste instante em que o dia agoniza,
raios de sol retidos no meu ventre
dançam como enormes serpentes.
O amarelo
que batia desesperadamente em minha vidraça
entrou e dourou meus cabelos.
E esse rosa exagerado
que ficou após a grande bola-ouro
penetrar o útero da terra
reflete o tom de minhas faces em fogo.
Uma brisa fresca acaricia meu corpo…
(Brisa auto-correio: – trouxe-me lindas notícias do meu inconsciente)

Instantes de estranha magia,
esses em que a noite copula com o dia.
Divino entrelaçar de elementos opostos,
resfolegante luta entre brilhantes e opacos.
Enfim… Plenitude: a noite cavalga o dia.
É o momento incontestável
do orgasmo universal:
Astros brincando…
Estrelas despudoradas mostram-se todinhas!
E o véu negro da noite, ciumento,
deixou (só por poucos momentos)
a lua nuazinha.
O sereno cai, umedecendo lírios silvestres,
tal qual efeito de pudica orgia.
Nesse instante em que a terra ficou grávida
do calor de uma noite de alegria!
É noite. O silêncio é cúmplice do mistério.
A escuridão, irmã dos instintos,
permite a visão dos corpos celestes.
É noite. É permitido SER,
AMAR,
SENTIR PRAZER,
VER,
PENSAR,
ANTEVER,
TRANSCENDER…
É noite.
Animus e Anima buscam o Uno,
em seu leito Universal!

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REFERÊNCIA
MEROLA, Edna Domenica. Cora, coração. Nova Letra, 2011, PP 80-82
Foto de Cláudio Tasso Scherer (Estúdio Desterrados, Florianópolis)

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