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Internet cria mais intimidade e confiança entre pais e filhos

Os pais dos jovens que viveram antes da internet não sabiam muito bem o que seus filhos compartilhavam, o que os amigos deles pensavam e, às vezes, nem por onde os adolescentes andavam. Com a tecnologia e as redes sociais, informa o Uol, a convivência familiar ficou mais estreita. Além de aproximar quem está longe, as ferramentas permitem conhecer um pouco mais do universo de cada um.

Pelo Facebook, por exemplo, alguns pais têm uma ideia melhor do que se passa na vida e na cabeça dos filhos. “Através das postagens, conheço suas ideologias, seus pensamentos e o que acontece no seu entorno. As vontades e os desejos dela aparecem nas entrelinhas do que ela compartilha e comenta”, diz a empresária Érica Marques, atuante na área de marketing digital, acerca do comportamento de sua filha Piettra Marques Rebelo, 16 anos, que criou o perfil na rede social há quatro anos com o aval da mãe.

A psicóloga Mariana Matos, professora de cursos de extensão sobre novas tecnologias e relacionamentos da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), acredita que as redes sociais apenas reforçam mudanças na família que já vinham acontecendo. “Antes dessas tecnologias, já havia uma abertura maior para o diálogo, as relações se tornaram mais íntimas e as crianças ganharam importância e participação na vida da família”, explica.

Mas se antes bastava o adolescente fechar a porta do quarto para se isolar, hoje, isso já não é mais suficiente. “Existem tantos meios de contato que é normal os pais terem mais acesso ao que os filhos pensam, com quem se relacionam e perceber se há algum problema”, observa Mariana.

Para o psicólogo Gonzalo Bacigalupe, professor do programa de Terapia Familiar da Universidade de Massachusetts, em Boston, nos Estados Unidos, uma das vantagens da tecnologia, como celulares e redes sociais, no cotidiano familiar é a possibilidade de maior participação no dia a dia mesmo à distância. “Isso permite que as pessoas tomem decisões em colaboração com as outras”, destaca.

A empresária Érica Marques tira proveito dessa agilidade da comunicação digital para poder acompanhar a filha Piettra, mesmo de longe. “Eu estava em uma reunião enquanto ela se arrumava para ir a uma festa. Ela tirou uma foto de como estava vestida e pediu minha opinião”, conta.

Como acontece com qualquer revolução tecnológica, existe sempre o temor de que algo novo transforme de maneira negativa a forma com que as pessoas se relacionam. Há sempre o medo de que a tecnologia substitua o diálogo. “Antes da internet, a TV foi vista como vilã, que impediria de conversamos uns com os outros, de ficarmos juntos. E hoje a TV é como um evento social, algo que assistimos juntos”, afirma Bacigalupe.

O professor da Universidade de Massachusetts enxerga a tecnologia mais como um meio para conectar as pessoas do que afastá-las. Pelas redes sociais, é possível dividir fotos e acontecimentos familiares com os parentes que moram longe, que em outros tempos perdiam totalmente o contato. “A tecnologia ajudou as famílias que vivem distantes, em diferentes cidades, a se manterem conectadas”, fala.

Para a psicóloga Rosane Spizzirri, autora do livro “Adolescência & Comunicação Virtual” (Editora Sinodal), as redes sociais aumentam as possibilidades de comunicação e interação, porém em famílias que já mantêm um bom diálogo. “A tecnologia expressa nas famílias o funcionamento existente. Nas famílias que têm boa qualidade de interação, geralmente isso se estenderá às redes sociais e vice-versa”, diz.

Segundo Rosane, os problemas, como o uso excessivo em momentos de convivência familiar e a troca do convívio presencial pelo virtual, surgem nas famílias disfuncionais. “Famílias com precária qualidade de afeto, convivência e autoridade terão maiores dificuldades em administrar essas ferramentas tão sedutoras aos jovens”, explica a psicóloga.

Por mais que a tecnologia e as redes sociais facilitem a comunicação e ajudem a estreitar o relacionamento familiar, existe um espaço de cada um, inclusive do jovem, que deve ser respeitado. Na opinião de Gonzalo Bacigalupe, os adolescentes precisam ter sua própria cultura e seu mundo separado dos adultos para se desenvolverem.

“Existem coisas que eles não querem dividir com os pais e isso é normal, saudável. E eles sempre encontram maneiras de se comunicar de um jeito que os pais não necessariamente entendem”, afirma.

Mesmo sem chegar ao extremo de bloquear os pais no Facebook, os jovens criam mecanismos para preservar a privacidade, como pela utilização de mensagens privadas e grupos no aplicativo de mensagens Whatsapp.

A psicóloga Mariana Matos defende que é importante que os pais compreendam essa necessidade e não aproveitem as ferramentas digitais para invadir a vida dos filhos. “É interessante usar para conhecer e conversar mais, porém quando isso é usado para um controle exagerado e para vigiar se torna negativo”, diz.

Érica Marques revela que, no início, supervisionava todas as ações da filha Piettra no Facebook, contudo com muita conversa e explicação. Antes de postar uma foto, a garota tinha de pedir a validação da mãe, que muitas vezes perguntava, por exemplo, se Piettra achava uma boa ideia publicar uma foto de biquíni.

“Hoje ela já tem liberdade de postar a foto que escolher. E, quando eu não curto ou comento, ela pergunta se eu vi e porque ainda não interagi”, conta a empresária. Para Érica, as redes sociais contribuem para a convivência diária e, no seu caso com a filha, ajudaram também a criar uma relação de mais intimidade e confiança.

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