Mais uma vez, me sinto compelida a falar sobre as críticas que a primeira-dama tem sofrido. Agora, o motivo seria um suposto comentário feito por Janja ao presidente da China, a respeito da necessidade de regulamentação do TikTok. Mas, sinceramente, não é disso que quero tratar.
O que me interessa aqui é a memória — ou melhor, a falta dela.
Nos dois primeiros mandatos do presidente Lula, a primeira-dama era outra. Dona Marisa Letícia. Diferente da atual, preferia não se envolver diretamente nos assuntos da política nacional. Também não participava ativamente de trabalhos ligados a ministérios ou secretarias que lidam com pautas sociais — funções que, aliás, muitas primeiras-damas tradicionalmente assumem, seja no âmbito federal, estadual ou municipal.
Marisa Letícia escolheu os bastidores. E, por essa escolha, foi chamada de inútil.
Sim, inútil. Porque, aparentemente, se a primeira-dama não aparece, está desperdiçando espaço; se aparece, está se intrometendo. Se não fala, é apática. Se fala, é inconveniente.
Hoje, temos uma primeira-dama de perfil diferente: Janja fala, se posiciona, se envolve em agendas, faz parte do debate público. E, por isso, também é atacada.
O que me parece evidente é que o problema não é o perfil da mulher que acompanha o presidente. O problema, talvez, seja o próprio presidente. A imprensa que ontem desdenhava do silêncio de Marisa, hoje ridiculariza a voz de Janja. E o denominador comum é Lula.
É um ciclo previsível. Troca-se a mulher, mantêm-se os ataques. Troca-se o estilo, mantêm-se as críticas. No fim das contas, parece que o incômodo nunca esteve no papel da primeira-dama, mas no protagonismo — e na popularidade — do presidente que ela escolheu acompanhar.
