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Inverno é o principal antídoto contra o banho nosso de cada dia

Do tipo que foge do frio como o vampiro do alho, me apego à canequinha naqueles dias em que a Meteorologia anuncia a chegada de uma frente fria do Piauí. Homem macho no modo ativo até debaixo d’água, confesso ter titubeado com a chegada do frio. Coisa rápida? Nem tanto. Dia desses, tive de recorrer ao Viagra, mesmo sem ser dia de sexo pré-agendado. Tudo para tentar encontrar o moço que faz xixi. Às favas com a imodéstia, mas, como a maioria dos brasileiros de Norte a Sul do país, o inverno deste ano me pegou desprevenido. Está tão frio que banhar virou prova de resistência. É tirar a remela e ponto final. Nos dias mais críticos e fora dos fins de semana, banho só os do tipo sinuca ou feijoada. Como?

Conforme ensinamentos aportuguesados do meu avô Aristarco Pederneira, no banho sinuca só lavamos as bolas, o taco e a caçapa. Mais radical e, por isso, mais demorado, no denominado banho feijoada o asseio inclui o rabo, os pés e as orelhas. O que sei é que está feia a coisa. Tanto que cabe uma pergunta: Quem nunca deixou de tomar banho dois ou três dias seguidos que atire o primeiro sabonete. Enfim, se tiver roupa para o período e no caso de termos água com abundância, a limpeza total fica para o ano que vem. Se Deus permitir, é claro.

Sem qualquer alusão àquela terrível fase em que o Brasil era governado por um presidente coveiro, tenho mesmo de tomar banho ou é para continuar lavando só as mãos? O resto, as chamadas partes pudendas, só se lava quando é para ser usado. Não é o caso de machos como eu. Não sou cisgênero, não tenho nome morto ou “deadname” e não me utilizo do X para pesquisas sobre o sexo dos anjos, tampouco para avaliar o grau de testosterona de ninguém. Prefiro o ponto G do Google, ferramenta que uso para as viagens masturbacológicas, algo como masturbação ecológica, aquela em que a gente larga o tronco e só segura nas folhas. O que tenho mesmo é o infalível sexto sentido do FBI.

O que não tenho e jamais terei é aquele momento de me imaginar com outro sexo. Se um dia isso ocorrer, provavelmente eu terei uma disfunção hormonal, consequência direta da sensação erétil interna. Sem preocupação com eventuais fuxicos, assumo que sou de Cis, de cismado, e naturalmente sistemático. Afinal, rascunho nem sempre é retrabalho. Por isso, além do asseio pela metade (?), só durmo de camisa cacharrel, pijama de flanela listrada, pantufa, gorro e camisinha para evitar resfriados no All Bilau.

Como homem que segura as mãos para que elas não ziguezagueiem, costumo valorizar os conselhos dos almanaques, desde que eles sigam na direção dos preceitos investigativos de meu avô. Eis a razão pela qual abandonei o hábito de dormir de touca. Lendo um ensaio denominado Sorria, meu bem, de autoria do poeta contemporâneo Dicró, em parceria com o falecido Evaldo Braga, aprendi que a expressão tem duplo sentido. Menos drástico, o primeiro é a duvidosa masculinidade do homem que faz uso do simbólico apetrecho.

Metafórico, mas terminantemente preocupante, o segundo significa falta de atenção, zona de perigo ou sério risco de dançar conforme a música. Eufemismos à parte, dormir de touca pode ser tão rombudo como dormir de bruços. No português mais escorreito, isso quer dizer tão somente que, se bobear, créu. Voltando ao estágio inicial, o frio, peço a todos os amigos e leitores para que orem por mim, porque hoje é dia de banho. Mesmo sob protesto, tomei a decisão após ser informado a respeito do perfume do japonês que não toma banho: Inhakapura. Tô fora. Que Deus me ajude nessa empreitada.

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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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