Há um século, mataram milhões em nome da pátria. Depois, em nome da raça. Agora, matam em nome de Deus, da segurança, da soberania.
A história, como dizia Karl Marx, se repete “a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”. Mas na guerra entre Israel e Irã, a farsa e a tragédia se fundem. E viram rotina.
A ofensiva de Israel sobre o Irã, e a retaliação do Irã sobre Israel, não são acidentes: são roteiros antigos. Escritos com o sangue de gerações. Não são novos. Apenas mudam de uniforme, de drone, de justificativa. São versões 2.0 das mesmas barbáries que atravessaram o século XX. E talvez essa seja a mais amarga constatação: não aprendemos nada.
Walter Benjamin alertou: o progresso que não olha para os destroços é apenas a marcha de um anjo que voa de costas, cego. Esse anjo, o “Anjo da História”, tem suas asas presas pelo vendaval da destruição. E talvez esteja agora sobrevoando Gaza, Tel Aviv, Teerã. Voando sem poder pousar.
O Oriente Médio tornou-se, para o Ocidente, um campo de testes: de armas, de discursos, de ideologias. Edward Said denunciava como o orientalismo constrói o “outro” como ameaça e assim, autoriza-se sua eliminação. Israel e Irã se tornaram, também, espelhos da política global: espelhos rachados, que refletem não a realidade, mas o medo.
E no centro dessa repetição infernal, estão os civis. Gente comum que só queria viver. O historiador Yuval Harari escreveu que a paz é uma invenção moderna, mas frágil. E quando líderes preferem poder a humanidade, ela escapa pelas frestas da arrogância.
A história se repete porque o poder, quando sem ética, reinventa sua violência com novos nomes: operação, defesa, retaliação. Mas sempre mata da mesma forma primeiro por dentro.
Talvez só haja uma saída: lembrar.
Recontar. Registrar.
Porque se esquecermos, a guerra se repetirá não só como farsa. Mas como destino.
