De certa forma, as janelas de aviões são pontos de fuga para o incerto. Lá fora, na abóbada redonda – a dez mil metros do plano inverso – há nuvens de algodão e rios voadores e outras naves e ETs. Há planetas, asteroides e outros corpos rochosos ou metálicos que também orbitam o Sol; estrelas sem dor, sem guerra, tudo em estado natural. Há, sim, turbulências de frio/gelo e nuvens de raios ultravioletas. Olhando atento pelas janelas dos aviões, mirando fundo – bem fundo o espaço sobre nuvens -, descobrimos que as rotas são autoestradas, caminhos libertos, vazões de movimento e pulsão; trilhas mágicas no seio do infinito céu, portais/vazantes para o universo: “buracos de e minhocas interestrelares”. Mistérios, mistérios, mistérios. “A Lua está tão ali, logo após a janelinha!”. Flutuamos feitos astronautas desastrados/pasteurizados em cabines-charutos-espaciais, desafiando a força da gravidade, na busca da única certeza possível: “Ninguém encarcera a imaginação”.
……………..
Gilberto Motta é escritor, jornalista e professor/pesquisador com milhares de horas em viagens espaciais nas janelinhas dos aviões de carreira. Vive na Guarda do Embaú, vilarejo do litoral de SC.
