Um dos perfis que mais gosto de acompanhar no Instagram é o da Sharon Sburlino (@gringa.italiana). Ela sempre traz curiosidades interessantes sobre a Itália e compartilha suas impressões sobre a cultura brasileira, com extrema sensibilidade e bom humor. Ontem assisti a um vídeo em que ela dizia que, para os italianos, Jesus é alguém mais distante — um personagem histórico, uma figura lembrada por tradição, e não necessariamente por devoção, enquanto que, para os brasileiros, Jesus parece ser alguém citado com mais carinho e afeto. E ela termina o vídeo com uma pergunta direta, quase desconcertante: “E para você, quem é Jesus?”
Fiquei alguns minutos em silêncio, só pensando. E essa pergunta ficou ecoando em mim, como aquelas frases que a gente lê e não esquece.
Para nós, brasileiros, esse povo tão religiosamente plural, Jesus costuma ter muitos rostos. Acho que, antes de tudo, acreditamos que Deus é brasileiro. E sendo Deus brasileiro, Jesus está bem mais próximo da gente. Ele não é uma figura solene entronada num altar de mármore frio. Ele está mais para o vizinho que segura a porta do elevador pra você entrar com as sacolas. Ou para a senhora que vende bolo de fubá na porta da escola pra completar a renda. É o frentista que trabalha no domingo com sorriso no rosto. É a mãe solo que pega três conduções com a criança no colo e fé no coração. É o gari que canta louvores enquanto varre a rua.
Jesus pode ser também aquele senhor que cuida do jardim público como se fosse o quintal da casa dele, só pra ver flor nascer onde todo mundo só vê concreto. Ou o moço do delivery que pede desculpas por ter demorado, mesmo quando não demorou. Jesus é aquele jovem periférico que estuda à noite com a lanterna do celular porque acredita que conhecimento liberta. Ele é o catador de latinhas que recolhe o que a cidade descarta. Ele é a menina que dá o lugar no ônibus pra uma idosa e ainda ajuda a carregar as sacolas.
Quando penso em Jesus, lembro das palavras dele: “tudo o que vocês fizeram a algum desses meus pequenos irmãos, a mim o fizeram” (Mateus 25:40). E aí me dou conta de que talvez a maior devoção que podemos ter não está no altar, mas no cotidiano.
Jesus está no gesto de quem perdoa, de quem acolhe, de quem escuta sem julgar. Está na lágrima de quem sente dor e na mão estendida de quem consola. Está no ato silencioso de quem reza por outro. Está nos olhos de quem acredita num mundo mais justo, mesmo quando tudo diz o contrário.
Pra mim, Jesus é isso: presença discreta, amor concreto, fé que caminha com chinelo gasto pelos becos da vida. Ele é aquele que, mesmo sem ser reconhecido, segue com a gente no caminho de Emaús — e só depois percebemos: “Porventura não ardia em nós o nosso coração, quando, pelo caminho, nos falava?” (Lucas 24:32).
E pra você, quem é Jesus?
