Mal começou a escrever as primeiras palavras, sentiu necessidade de anotar todos os acontecimentos que julgava merecedores de memória. O primeiro palito de picolé premiado, sabor chocolate, a troca de olhares com a professora de óculos ovalados, que lhe remontavam aos de uma atriz, cujo nome ainda não conseguia pronunciar corretamente. Não importava, já que o que valia de verdade era escrever.
De tantas folhas soltas, todas com garranchos ininteligíveis, o ainda pequeno Joaquim, todavia agora mais letrado, ouviu falar, pela primeira vez, em diário. Curioso que era, e determinado ainda mais, decidiu ter uma conversa seriíssima com o avô.
De tão empenhado na empreitada, tratou de trajar a melhor vestimenta, já que a situação lhe pareceu um tanto dramática. De camisa de algodão com bolinhas coloridas, short azul, meias brancas e um par de Conga novinho, Joaquim se sentiu apresentável para tamanha missão.
O garoto, no entanto, carregava a dúvida se o parente saberia o que era um diário. Confabulou com seus botões durante uma manhã inteirinha até que, finalmente, perguntou para o avô se ele disporia de alguns minutos. O velho, obviamente, assentiu.
— Claro que sei o que é um diário, Joaquim.
— Então, será que o senhor poderia me dar um? É que preciso de um pra escrever.
— Mas isso é coisa de menina, Joaquim.
— Escrever?
— Diário.
— Escrever pode?
— Pode.
— Num diário?
— Num caderno!
— E o senhor me dá um?
— Um caderno?
— Sim.
— Claro que dou, Joaquim.
A criança agradeceu ao avô e, já na porta, virou-se e, com um sorriso maroto, disse:
— Vovô, mas quero um caderno diário, hein?!
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