Tenho observado com bastante atenção as prisões relacionadas à trama golpista que vieram à tona nos últimos dias. E algo chama profundamente a minha atenção: a forma como tudo tem acontecido. Bolsonaro foi preso sem algemas, sem espetáculo, sem aquela cobertura sufocante da imprensa em tempo real. O mesmo ocorreu com os militares envolvidos. Nada de helicópteros acompanhando viaturas, nada de agentes armados fazendo show para as câmeras. Apenas o cumprimento da lei, simples e direto.
Outro ponto importante é que o início do cumprimento da pena ocorreu após o trânsito em julgado, como deve ser em qualquer Estado Democrático de Direito. No curso do inquérito e do processo, não houve condução coercitiva de quem não se recusou a depor, muito menos de quem nunca havia sido anteriormente intimado. Não houve a divulgação seletiva de trechos de delações em horário nobre, nem vazamentos calculados para incendiar a opinião pública. Não houve espetáculo. Houve Justiça.
Tudo se deu seguindo rigorosamente o devido processo legal. Aquele mesmo princípio que muitos tentaram transformar em detalhe irrelevante durante os anos de lavajatismo. A sensação é de que, enfim, deixamos para trás o modelo de perseguição midiático-judicial que tantos danos causou ao país.
Pela primeira vez em muito tempo, sinto que avançamos enquanto nação. Que nossas instituições aprenderam com os erros e estão aplicando essas lições. Aperfeiçoamos nossa Justiça. Não a Justiça das manchetes, mas a Justiça que acontece nos autos, com responsabilidade, sobriedade e respeito às garantias fundamentais.
Se há algum sinal de maturidade democrática, ele está justamente aí: quando até os casos mais sensíveis são tratados com seriedade, sem espetáculo e sem revanchismo, mas com firmeza e legalidade. E isso me dá esperança no país que estamos construindo.
