Duas tempestades atingiram Brasília na tarde deste domingo, 12. A primeira foi o impacto provocado com a informação da morte de José Carlos Leitão. Logo depois, como se chorasse a perda, São Pedro abiu as torneiras lá na abóbada celeste e fez cair uma chuva torrencial sobre a capital da República, após longos meses de estiagem. Eram as lágrimas do apóstolo de Cristo para lavar a alma, o corpo e repetir o gesto de limpar os pés de mais um de seus discípulos, um passageiro especial com destino ao Paraíso.
Eu o conheci como se conhece um cometa, desses que passam deixando rastro luminoso no céu político e humano do país. José Carlos Leitão não era apenas jornalista, publicitário, empresário. Era um inventor de destinos. Um artífice de histórias. Um homem que acreditava no poder da palavra, mas também na força da ação.
Quando Brasília ainda era um terreno de esperanças, Zé já cruzava seus corredores com a naturalidade de quem se move entre amigos. Tinha o dom raro de entender o tempo. O mesmo tempo que, generoso, o reconheceu. Soube ser discreto quando era preciso, ousado quando ninguém mais ousava, e incansável quando muitos já desistiam.
Foi ele quem, com Siqueira Campos, sonhou e realizou o impossível, ao criar o mais novo Estado no coração do país. Tocantins nascia antes de nascer. Primeiro no papel, depois nas reuniões, e por fim nas ruas, onde o povo esperava por justiça e por desenvolvimento. Zé Carlos foi o engenheiro invisível dessa epopeia. Criou a Conorte, deu forma e voz a uma ideia que parecia miragem. E, quando o sonho se tornou decreto, lá estava ele, ao lado da primeira retroescavadeira, abrindo a terra vermelha onde surgiria Palmas, capital símbolo de uma nova era.
Seu livro, “Tocantins – eu criei”, não é apenas um título; é um manifesto. É o testemunho de quem não assistiu à história, mas a construiu com as próprias mãos. José Carlos Leitão entendeu que o Brasil precisava olhar para dentro de si, integrar o que estava esquecido, dar rosto e futuro a uma região que pedia passagem.
Hoje, quando penso nele, não me vem o luto; vem o movimento. Vejo as avenidas largas de Palmas, as luzes refletindo nos lagos, os jovens que nasceram em um Estado que há poucas décadas era apenas um ideal. Em cada prédio público, em cada escola, em cada pedaço de chão tocantinense, há um pouco da teimosia e da visão de José Carlos Leitão.
Ele partiu, sim, mas não foi embora. Ficou nas páginas que escreveu, nos gestos que provocou, nos mapas que redesenhou. Ficou o exemplo de que um homem pode mudar o curso de um país se tiver a coragem de acreditar que o impossível é apenas o possível adiado.
Zé Carlos, com sua fala mansa e seu olhar que carregava o brilho dos raios do Sol, mostrou que o futuro se constrói com convicção. O Tocantins é seu monumento. E nós – eu e os muitos amigos que trabalharam com ele -, somos testemunhas de que a grandeza não se mede pela extensão da vida, mas pela profundidade dos legados que ela deixa. Aos 76 anos, ele encerrou uma vida que brilhou como as estrelas que cintilam no céu, mas cuja luz continua a refletir no chão do Estado que ajudou a erguer.
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José Seabra, de passagem por Brasília, é diretor da Sucursal Regional Nordeste de Notibras
