Escrevo-te sem endereço,
com tinta feita de suspiros e sombras,
pois há palavras que só o vento entende
e só a saudade traduz.
Minhas cartas não têm carimbo,
mas carregam o peso de silêncios antigos,
dobradas com mãos que hesitam,
lacradas com a esperança de serem encontradas.
Cada linha é uma estrela cadente,
uma promessa sussurrada ao universo,
uma tentativa de tocar o tempo
sem deixá-lo escapar entre os dedos.
Há noites em que escrevo com olhos de farol,
imerso no oceano de insônia,
desenhando barcos invisíveis
para atravessar tempestades sem nome.
E quando a solidão se torna um eco,
trilho palavras como passos na areia,
esperando que o vento leve
o que não posso carregar sozinho.
Se um dia encontrares estas cartas
entre as folhas do acaso,
saberás que estive aqui,
que lutei sem testemunhas,
e que, mesmo na ausência,
minha voz ainda dança no papel.
