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Ler Emanuelle Nascimento é melhor do que deitar no divã da terapeuta

Hoje trago a talentosíssima escritora Emanuelle Nascimento, que tem brindado os leitores do Café Literário com textos incríveis. Mas eis que não estou aqui para enaltecer a bela escrita dessa maravilhosa escritora. Então, vamos direto ao que interessa: O LADO B DA LITERATURA da nossa querida autora, que nos revelou ser uma mulher muito divertida, que parece saber tirar leite de pedra.

“Sou maranhense, cientista social e sobrevivente profissional de boletos, divórcios e prazos acadêmicos. Transformei o luto do fim do casamento em tese, os surtos do campo em crônica, e as crises existenciais em podcast. Escrevo porque não dá pra pagar terapia todo mês, e porque transformar dor em riso virou meu jeito preferido de existir. Meu lado B é onde os boletos choram, os amores acabam, mas as histórias salvam e espero que quem me leia, ria, chore e, quem sabe, se sinta um pouquinho menos só.”

Outras facetas da Emanuelle são as suas vidas acadêmica e amorosa.

“Sou doutoranda em Ciências Sociais, maranhense e sobrevivente não apenas da academia, mas da vida. Meu lado B? Ele veio forte quando a separação e o divórcio atravessaram minha tese feito um meteoro: enquanto colegas escreviam capítulos no café hipster da cidade, eu escrevia chorando no chão da cozinha, entre boletos atrasados e crises existenciais cronometradas no despertador.”

De tão empenhada, Emanuelle nos revelou que seus estudos a fizeram entender mais sobre si mesma.

“O que era para ser só uma pesquisa sobre hospitais psiquiátricos virou também um autoestudo: teve um momento em que eu sinceramente achei que ia sair de lá não como pesquisadora, mas como paciente. Voltei pra casa com o caderno cheio de anotações e uma alma meio estilhaçada, mas, no lugar de provocar a morte que rondava meus pensamentos, eu provoquei histórias. A dor virou crônica, o caos virou poesia, e a solidão virou podcast.”

Pois é, leitores, se a vida deu limões para Emanuelle, eis que ela os transformou em uma doce limonada.

“Foi assim que nasceram minhas três primeiras crônicas do lado B: “Como quase enlouqueci no campo (mas saí com dados incríveis)”, “Os boletos também choram” e “Manual de sobrevivência para corações desastrosos”. Todas escritas entre soluços, carregadores quebrados e a certeza de que transformar o sofrimento em texto dá um alívio que Freud jamais previu.”

E a nossa escritora, poeta, acadêmica, pagadora de boletos e coisa e tal também arruma um tempinho para filosofar.

“No fim, escrevo porque não dá para não escrever e porque rir de si mesma é, honestamente, a terapia mais barata do mercado.”

Para complementar O LADO B DA LITERATURA da prestigiadíssima Emanuelle Nascimento, eis que decidi, de última hora, também mostrar um pouquinho do seu lado escritora, com três de suas deliciosas crônicas curtinhas.

Os boletos também choram

Quem disse que só gente sofre nunca precisou encarar uma pilha de boletos no final do mês. No meio do doutorado, enquanto eu lia Bourdieu falando de capital simbólico, meu banco gritava pelo capital material com juros e multa. O capítulo da tese fluía menos do que a conta de luz, que chegava pontualmente. Tive epifanias diante da fatura, filosofei na fila da lotérica, discuti existencialismo com o limite do cheque especial. E concluí: os boletos também choram, só que em silêncio, naquele e-mail “pagamento não confirmado”. Sobrevivi não porque sou forte, mas porque descobri que parcelar em 12 vezes é a mais pura poesia de sobrevivência.

Manual de sobrevivência para corações desastrosos

Separação e divórcio foram meu grande turning point ou, no bom português, o tsunami emocional que virou literatura. Enquanto amigas me indicavam vinho e aplicativos de paquera, eu preferi a linha radical: escrever até transformar a dor em riso. Chorava no teclado, digitava soluçando e rezava para o computador não pifar afogado. Aprendi que sobreviver a um coração despedaçado requer bom humor, autocuidado e uma habilidade ninja de transformar a tragédia em meme pessoal. Porque, convenhamos, quem nunca olhou uma DR e pensou “isso daria uma crônica” não sabe o que é drama de verdade.

Como quase enlouqueci no campo (mas saí com dados incríveis)

A pesquisa em hospital psiquiátrico parecia promissora até eu perceber que o limite entre observadora e observada era mais fino que papel de seda. Entrei querendo dados; saí querendo terapia. Passei dias no campo ouvindo histórias que me atravessaram a ponto de eu mesma cogitar preencher a ficha de internação. Anotei tanto, chorei tanto, que escrevi os melhores insights… Nos meus próprios braços. Resultado? Uma tese premiável, olheiras de panda e a constatação: o verdadeiro campo de pesquisa é dentro da gente. E spoiler: nenhum manual acadêmico prepara pra isso.

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Cassiano Condé, 81, gaúcho, deixou de teclar reportagens nas redações por onde passou. Agora finca os pés nas areias da Praia do Cassino, em Rio Grande, onde extrai pérolas que se transformam em crônicas.

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