Temos uns vizinhos de rua, digamos não boa gente, pois o pai, o Geraldo, aprendeu a furtar logo na infância. Depois virou traficante e já fora preso.
Geraldinho, o filho, crescendo vendo o pai naquela vida, resolveu pôr em prática o gene ruim que herdara. Fazia igual ao pai, começou com pequenos furtos, depois expandiu o território do crime, indo para outros estados, fazendo até assaltos grandiosos a bancos e grandes empresas.
Resultado: fora preso também. Passou um determinado tempo na cadeia, para alívio dos vizinhos, mas eis que, um dia, apareceu o Geraldinho, portando um acessório eletrônico no tornozelo.
Na rua de baixo, mora dona Jurema, uma senhora de oitenta e três anos, família criada, seis filhos, vários netos e até três bisnetos. O caçula, apesar de já ter mais de sessenta anos, ficou morando com a mãe, para fazer-lhe companhia.
Família tradicional da cidade, pessoas super do bem. Morava no terreno que foi passando de geração em geração. Terreno grande, cheio de árvores e, em um canto do terreno, muitas bananeiras.
Numa manhã de quarta-feira, a filha levou Jurema para passar o dia com ela.
O filho fora almoçar na casa da irmã e voltou logo para casa.
Ao chegar em casa, quase desmaiou (pois esse filho da Jurema era bem desprovido de coragem) ao ver duas viaturas da polícia militar paradas em frente a casa. Policiais posicionados, armas em punho.
Três policiais já tinham pulado o muro para dentro do grande terreno. Juarez, o filho de Jurema, quase sem poder falar, perguntou o que estava acontecendo.
— O Geraldo de tal e tal tentou uma fuga, mas como foi frustrada, pulou para o seu terreno, Juarez.
— O Geraldinho? Ele está aqui dentro?
— Sim. — continuou o policial.
Os policiais eram conhecidos e conheciam os moradores. Juarez abriu o portão e os convidou para entrar.
— Sargento, o rapaz não está no quintal.
—Vamos ter de fazer uma busca dentro da sua casa, Juarez.
— Sim, senhor. Fiquem à vontade. Eu só preciso fazer uso do banheiro. Estou muito nervoso.
Juarez correu para o banheiro, e os policiais entraram na casa e começaram a procurar como se procura uma agulha no palheiro.
Depois que Juarez saiu do banheiro, já mais calmo, disse:
— Senhor Sargento, como o Geraldinho pode estar aqui dentro de casa? Eu o conheço desde que nasceu, mas ele nunca veio aqui em casa. Por que os senhores o estão procurando aqui?
— Juarez, o dispositivo da tornozeleira eletrônica está apontando aqui, neste exato local.
Ficaram todos sem saber o que estava acontecendo. Já tinham olhado dentro dos armários dos quartos, da cozinha, debaixo das camas, até nos armários do banheiro, olharam tudo.
Quando já estavam desistindo, um policial resolveu olhar mais uma vez, agora nas bananeiras e eis que encontrou o acessório jogado, bem perto da casa, no meio das plantas. Desvendado o mistério.
Geraldinho passou pela rua, arrancou a tornozeleira e jogou por cima do muro.
— Aff! Ainda bem que encontrou e, graças a Deus, mamãe não está em casa. Ela ia morrer de medo desse tanto de polícia na casa dela.
Os policiais agradeceram, pediram desculpas por qualquer transtorno e foram embora.
Uma semana depois, acharam o Geraldinho escondido na casa de um amigo.
Cadeia nele!
