Mãe, já faz um ano.
Agora, recupero arquivos e telas.
“Novo” trabalho. Pós-pandemia.
O “novo” normal é de bites, algoritmos, rabiscos virtuais.
Ciberespaço. Home office.
Salvar os escritos do lixo digital.
Pistas do isolamento implorando recuperação.
Nos laptops, notebooks, smartfones; dentro de nós.
Imagine a solidão de cada sílaba, cada palavra, cada frase vivida e aprisionada nos bites arquivados?
Escritos são gentes/genes virtuais.
Faz um ano.
O planeta sobreviveu e deixamos a UTI coletiva.
História, mãe.
Agora, sem as máscaras; mas o vírus ainda perdura.
Grato pela parceria naqueles dias isolados.
Reinvenções eternas.
Agora, a saudade de quando acreditávamos que o pior ainda estava por vir.
Não descarte as máscaras, tá!
Cuide-se bem, Mãe…
Já tem internet aí no céu?
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Gilberto Motta é escritor, jornalista e professor/pesquisador sobrevivente da pandemia covid 19. Miniconto Prêmio Itaú Literatura 2021. A mãe de Gilberto já havia morrido em 1993, mas ele escreveu em homenagem às mães de 700 mil órfãos de um genocídio bolsonarista. Vive, hoje, numa vilazinha da Guarda do Embaú, no litoral Sul de SC.
