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Magela veta Grass e abre espaço para Celina Leão

A disputa pelo Palácio do Buriti em 2026 começa a ganhar contornos de guerra interna no Partido dos Trabalhadores. O ex-deputado Geraldo Magela, velho conhecido da política brasiliense, resolveu tirar o partido da zona de conforto ao defender a realização de prévias para a escolha do candidato ao governo do Distrito Federal.

A fala, aparentemente democrática, carrega uma ponta de veneno, uma vez que Magela dá a entender que não aceitará “paraquedistas” disputando a vaga pelo PT. O recado não poderia ser mais direto: a alusão é ao atual presidente do Iphan, Leandro Grass, que deixou o Partido Verde para se abrigar sob as bênçãos do presidente Lula no ninho petista.

Com isso, o PT se vê diante de um dilema. De um lado, a tradição de Magela, que insiste em preservar espaço para quem construiu carreira no partido; de outro, a aposta em Grass, visto por setores do Planalto como nome viável para unificar apoios progressistas na capital da República.

Grass, que amargou uma derrota no último pleito, tenta se vender como o nome moderno e “agregador” da esquerda, mas a mensagem de Magela foi clara. Na avaliação do patureba com nacionalidade candanga por adoção, quem quiser lugar na primeira fila que carregue cadeira desde o início, e não chegue atrasado para a missa querendo sentar no banco da frente.

Ex-verde de carteirinha, hoje petista por decreto presidencial, a verdade é que Grass aterrissou de braços dados com Lula, com direito a tapete vermelho e chave do camarim, sem precisar suar a camisa na militância. Para Magela, porém, isso é quase um sacrilégio.

Outro grande obstáculo para as pretensões do presidente do Iphan é que ele esqueceu de combinar com a velha guarda do partido, que não está disposta a ceder espaço a um recém-chegado com cheiro de verniz novo. Magela, com seu sorriso sarcástico de quem já viu de tudo, parece dizer: “Menino, respeite a fila. Aqui, até pra perder eleição a gente tem hierarquia.”

Esse racha interno tende a acabar beneficiando justamente quem observa de camarote. Vem a ser a vice-governadora Celina Leão (PP). Candidata natural à sucessão de Ibaneis Rocha (MDB), ela aparece no tabuleiro como herdeira de um governo consolidado e com cacife para disputar a cadeira maior do Buriti.

Enquanto isso, Ibaneis, já em segundo mandato, prepara-se para tentar uma vaga inédita no Senado, deixando a sucessão em aberto. O caminho, no entanto, pode ser menos turbulento para Celina se os adversários continuarem brigando entre si.

No fim, a corrida de 2026 no Distrito Federal pode ser decidida menos por propostas e mais pelas rachaduras internas dos partidos. E, nesse jogo, Celina Leão parece ser a grande beneficiada. Até porque, ela se fortalece como herdeira de um governo que ainda tem caixa, palanque e máquina para oferecer. E pelo andar da carruagem, a vice-governadora nem precisará subir no tablado. Basta esperar o adversário tropeçar na própria língua.

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Marta Nobre é Editora Executiva de Notibras

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