A Magia e a Feitiçaria são fenômenos culturais, espirituais e religiosos que acompanham a humanidade desde seus primórdios, conforme registros rupestres nas cavernas, assim como objetos e restos mortais encontrados em cemitérios ancestrais datados de milhares de anos. Ambas remetem ao esforço humano de interagir com forças invisíveis para transformar a realidade, proteger-se de infortúnios ou alcançar objetivos específicos, como caçadas bem sucedidas e vitória sobre os inimigos. Embora intimamente relacionadas, a Magia e a Feitiçaria apresentam diferenças conceituais, históricas e práticas que marcaram sua trajetória no Ocidente e no Oriente.
O Mago Aleister Crowley definiu a Magia como “a ciência e a arte de causar mudanças em conformidade com a vontade”. Ela se fundamenta nos princípios herméticos, como a correspondência entre microcosmo e macrocosmo, a manipulação de símbolos e a invocação de forças espirituais. A Feitiçaria, por sua vez, está mais relacionada à tradição popular, às práticas transmitidas de geração em geração, envolvendo encantamentos, poções, ervas e rituais de proteção. Enquanto a Magia hermética busca o desenvolvimento interior e a comunhão com entidades superiores, a Feitiçaria enfatiza a solução prática de problemas cotidianos.
Desde a Antiguidade, a Magia esteve presente nas culturas egípcia, mesopotâmica, grega e romana. No Egito, sacerdotes utilizavam rituais mágicos ligados a Ísis e Thoth, associando-os à cura e à proteção espiritual. Na Grécia, a Magia se entrelaçava com a filosofia, especialmente no neoplatonismo e na teurgia, práticas que buscavam o contato com o divino. Já a Feitiçaria, está mais vinculada ao uso popular da Magia, sendo praticada entre comunidades camponesas e tradicionais, muitas vezes demonizada pelas elites religiosas e políticas, sobretudo durante a Idade Média e a Inquisição.
A Magia, em sua vertente erudita, encontra-se preservada e sistematizada em ordens herméticas e iniciáticas, como a Ordem Hermética da Aurora Dourada (Golden Dawn), fundada no século XIX, que estruturou rituais de invocação angélica, astrologia e cabala. Também se destacam a Ordo Templi Orientis (O.T.O.), influenciada pelos ensinamentos de Aleister Crowley e pela filosofia de Thelema, e a Societas Rosicruciana in Anglia, que perpetuou tradições alquímicas e cabalísticas. Essas ordens enfatizam a Magia como caminho espiritual, ligada ao autoconhecimento, à ascensão da alma e à união com o divino.
Entre as práticas mágicas estão a teurgia, que busca a união com divindades, a astrologia, a alquimia e o uso de grimórios. A Feitiçaria, por sua vez, é marcada por rituais como círculos mágicos, encantamentos, uso de velas, pedras, amuletos e ervas medicinais.
A diferença entre magos e feiticeiras reside sobretudo no estatuto social e no propósito de suas práticas. O mago está associado ao conhecimento erudito, próximo das cortes e das escolas filosóficas, estudando astrologia, alquimia e cabala. Sua prática é considerada elevada, conectada ao divino e, muitas vezes, tolerada ou respeitada. Já a feiticeira atuava no âmbito popular, transmitindo saberes orais e rituais práticos de cura, amor, fertilidade e proteção. Essa proximidade com o povo levou à perseguição de muitas mulheres durante a caça às bruxas, acusadas de pactos demoníacos e práticas ilícitas.
Enquanto o mago busca o aperfeiçoamento espiritual e o domínio das leis universais, a feiticeira está voltada para a comunidade, atendendo a demandas concretas, no amor, no trabalho, na saúde… Ambos, no entanto, compartilham a mesma raiz: a crença no poder humano de manipular energias e símbolos para interagir com o invisível.
Assim é!
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Giovanni Seabra
Grão Mestre do Colégio dos Magos e Sacerdotisas
@giovanniseabra.esoterico
@colegiodosmagosesacerdotisas
