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Mandato de deputado federal não é licença para cometer crimes

O deputado federal Paulo Bilynskyj (PL-SP) está em seu primeiro mandato político, mas sua trajetória fora da vida parlamentar já era marcada por episódios no mínimo perturbadores, mas que ajudam a entender o personagem que hoje ocupa uma cadeira na Câmara.

Em 2020, Bilynskyj ganhou as manchetes por um caso trágico e cheio de controvérsias: a morte de sua então namorada, Priscila Barrios. A versão oficial aponta para uma tentativa de homicídio contra ele seguida de suicídio. Essa narrativa, porém, foi contestada pela família de Priscila e também por uma apuração jornalística do The Intercept Brasil, em reportagem assinada por Cecília Oliveira, leitura que recomendo justamente porque lança luz sobre pontos que a versão oficial não esclareceu de forma satisfatória.

Antes de ingressar na política, Bilynskyj atuou como delegado da Polícia Civil de São Paulo. Segundo registros administrativos amplamente noticiados, ao longo de cerca de dez anos, respondeu a 12 processos administrativos disciplinares. O desfecho desses procedimentos levou à recomendação de demissão, com base no entendimento de que ele endossou práticas associadas à cultura do estupro e ao racismo. Não se trata de opinião pessoal minha, mas de conclusões constantes em procedimentos internos da própria instituição.

E há ainda outros episódios dignos de menção. Bilynskyj já foi sócio de um clube de tiro que promovia cursos com presença de crianças; já se vangloriou de antepassados nazistas; e protagonizou uma agressão contra o jornalista Guga Noblat, quando o agarrou pelo pescoço e o empurrou, fato registrado e amplamente divulgado à época.

Como se esse histórico não fosse suficiente, há poucos dias, o deputado voltou a ultrapassar todos os limites ao atacar o estado do Maranhão, afirmando que “o Maranhão é uma bosta” e que o estado, “falido e corrupto”, seria “desnecessário”. Não foi um deslize retórico nem uma crítica política: foi uma agressão direta aos maranhenses. Uma fala racista, xenofóbica e profundamente desrespeitosa, incompatível com o cargo que ocupa e que, a meu ver, configura quebra de decoro parlamentar.

Felizmente, houve reação institucional. O vice-governador do Maranhão, Felipe Camarão, anunciou que fará representação junto ao Ministério Público Federal e também acionará o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Porque é preciso deixar claro: o mandato de deputado não concede licença para cometer crimes, atacar populações inteiras ou disseminar ódio.

A política brasileira já convive com excessos demais. Normalizar esse tipo de comportamento seria aceitar que o Parlamento se transforme, de vez, em um espaço de violência simbólica, preconceito e impunidade. Eu, definitivamente, não aceito. Ninguém deveria aceitar.

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