Eu e minha sobrinha Maria adoramos andar descalças. É quase um ritual nosso. Não sei bem como ou quando esse hábito começou, mas sei que é algo que nos faz bem.
Sempre que possível, tiro os sapatos, as sandálias, o tênis, qualquer coisa que me separe do chão, e deixo os pés livres. Maria faz o mesmo, com aquele entusiasmo típico dos adolescentes que ainda sabem sentir o mundo com intensidade.
Talvez o tato seja um dos meus sentidos favoritos. Gosto de sentir a textura das coisas, o frio do piso pela manhã, o calor do chão à tarde, a grama úmida, a areia morna, o cimento áspero. Há algo de profundamente libertador em pisar o chão com os pés nus, sem barreiras. É como se, por alguns instantes, eu me reconectasse com algo antigo, instintivo, anterior à pressa e às obrigações.
Quando fico descalça, sinto que volto a um estado mais simples e verdadeiro. O corpo parece lembrar de algo que a mente esqueceu. Os pés podem até ficar sujos, mas a alma, essa fica lavada.
