Notibras

Manual de Sobrevivência Conjugal explica como é ser casada com botafoguense

Relacionamentos, minha gente, são como um campo minado coberto por pétalas de rosas: lindas à primeira vista, mas traiçoeiras quando você pisa. E isso vale pra qualquer casal. Agora, experimente estar casada com um escritor há 14 anos. Um escritor botafoguense. O combo completo da teimosia romântica com delírios futebolísticos.

Eduardo Martínez, o nome da peça, meu cônjuge, meu amor, minha penitência voluntária. Ele escreve, filosofa, sonha e, não raro, me pede o inusitado. Hoje, por exemplo, acordou inspirado, tomado por uma súbita epifania: “Amor, escreve uma crônica sobre o Botafogo?”

Veja bem, eu sou palmeirense. O que eu poderia dizer sobre o Botafogo além do óbvio “boa sorte na próxima temporada”? Não é desdém, é desconhecimento técnico mesmo. Mal sei o elenco atual.

Tentei ser razoável. Argumentei. Disse que seria como pedir a um vegetariano que escrevesse sobre o melhor churrasco de picanha do sul do Brasil. Mas Eduardo, sempre fiel ao seu enredo e ao Fogão, insistiu: “Mas você pode dizer que o Botafogo é o único time do mundo que venceu o PSG nos últimos meses!”

Ah, sim, claro. O Paris Saint-Germain. O time multibilionário, o pesadelo da zaga europeia, derrotado única e exclusivamente por… o Botafogo. Nem o Real Madrid, nem o Bayern, nem o Manchester City. O Botafogo, com o glorioso poder místico herdado de Garrincha e Nilton Santos. Isso é o que Eduardo afirma com os olhos brilhando, como quem fala de um milagre presenciado pessoalmente.

Segundo ele, o Chelsea, que enfrentará o PSG na final da Copa do Mundo de Clubes, deveria “estudar o Botafogo”. Isso mesmo. Rever lances, pedir dicas, ligar pro técnico, talvez. Fazer uma mentoria futebolística. Porque o único time capaz de marcar gols contra o PSG, no mundo inteiro, na galáxia conhecida, nos últimos tempos, foi o Botafogo.

Confesso que fiquei tentada a escrever a crônica. Um épico em que o Botafogo ensina táticas a clubes da Premier League. Um spin-off em que Cole Palmer, o camisa 10 do Chelsea, pede conselhos ao Igor Jesus. Mas recuei. Um casamento sobrevive melhor quando a gente sabe a hora de calar e deixar o outro brilhar no próprio devaneio.

Porque, no fim das contas, manter um casamento saudável não é sobre ceder o controle remoto ou concordar na escolha do restaurante. É sobre saber o exato momento de deixar seu marido acreditar que o Botafogo é o novo oráculo do futebol mundial.

E eu, como boa esposa e mulher sábia que sou, deixo-o sonhar. Afinal, são 14 anos de convivência. Se isso não for amor, é pelo menos um bom roteiro de comédia.

Quem sabe na próxima crônica eu escreva sobre a vez em que ele tentou me convencer de que foi o Botafogo que inventou o futebol.

Sair da versão mobile