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Maria Firmina (dos Reis), a primeira rainha brasileira da doce letra romanceada

Maria Firmina dos Reis, eis o nome da retratada de hoje em O Lado B da Literatura. Caso você não saiba quem foi, já afirmo que deveria, pois se trata a primeira romancista negra da América Latina. Isso mesmo!

Maranhense de São Luís, nasceu no dia 11 de março de 1822 e faleceu em 11 de novembro de 1917. Pois é, Maria Firmina chegou aos 95 anos, num tempo em que pessoas eram consideradas velhas quando completavam 40.

Aos 37 anos, Maria Firmina publicou o livro “Úrsula”, que é considerado o primeiro romance abolicionista do Brasil. A trama, aliás, envolve um triângulo amoroso entre três seres humanos negros que contestam o sistema escravocrata. Isso em 1959, quando ainda restavam 29 anos para que essa atrocidade fosse extinta no Brasil. Extinta, mas com as suas mazelas sendo vistas até hoje, haja vista o racismo estrutural que acomete a nossa sociedade.

Há quem afirme que a nossa escritora era prima de outro nome da literatura brasileira, o maranhense Francisco Sotero dos Reis, apesar da nebulosidade de tal tese. Esse parentesco seria por conta da mãe de Maria Firmina, a ex-escravizada Leonor Felipa. Se a história é verídica ou não, fica a dúvida.

Maria Firmina foi professora de primeiras letras entre 1847 e 1881. Fundou, antes de se aposentar, um curso gratuito para quem não podia pagar, o que comprova a sua luta contra o analfabetismo, e o engajamento para incluir os excluídos na sociedade. Devemos lembrar que tamanha iniciativa se deu ainda no século XIX, quando a educação era restrita a poucos.

Vale aqui uma frase de protesto de Maria Firmina, que se negou a ir de palanquim (cadeira carregada por homens escravizados). “Negro não é animal para se andar montado nele.” Foi a pé.

Morreu pobre. Maria Firmina dos Reis é a única mulher dentre os bustos da Praça do Pantheon, em São Luís, que são homenagens a importantes escritores maranhenses. Em um país marcado pelo patriarcado, é surpreendente que ela tenha sido lembrada. Ainda bem que foi.

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Cassiano Condé, 81, gaúcho, deixou de teclar reportagens nas redações por onde passou. Agora finca os pés nas areias da Praia do Cassino, em Rio Grande, onde extrai pérolas que se transformam em crônicas.

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