É com enorme satisfação que o Notibras apresenta sua mais nova colunista: a terapeuta integrativa Marina Dutra.
É um verdadeiro presente aos nossos leitores, que poderão agora mergulhar em reflexões profundas, acolhedoras e transformadoras sobre saúde emocional, autocuidado e bem-estar integral. Com uma linguagem acessível e sensível, Marina convida cada leitor a olhar para dentro, a escutar o próprio corpo e a compreender os sinais da alma, algo tão necessário em tempos de pressa, ansiedade e desconexão.
A coluna será publicada às sextas, iniciando amanhã, dia 8 de agosto, na editoria Leitura VIP do Notibras.
Seja muito bem-vinda, Marina Dutra. Que suas palavras toquem, inspirem e despertem o melhor em cada um de nós.
1. Marina, como você chegou até aqui? Qual foi o início da sua jornada rumo à formação como terapeuta?
Minha história profissional começou longe da terapia. Formei-me em Biologia, especializei-me em Mídias na Educação e trabalhei por anos como professora e coordenadora pedagógica. A terapia era algo distante na minha vida – até o destino me colocar à prova.
Perdi minha filha Beatriz com 38 semanas de gestação. Menos de um ano depois, minha mãe partiu, vítima de câncer. O luto duplo me esmagou. A dor se tornou física: meu corpo gritava, com dores que nenhum exame explicava. Me afastei de tudo – do trabalho, das pessoas, até de mim mesma.
Nesse desespero, tive um primeiro contato superficial com terapias alternativas. Mas foi só depois que a Ester nasceu que tudo mudou de verdade. Com ela nos meus braços, entendi que precisava me reconstruir – não só por mim, mas para ser a mãe que ela merecia.
Foi então que mergulhei de cabeça: fiz formações em terapias integrativas, aprofundei meus estudos e transformei minha dor em propósito. O que começou como um caminho para minha própria cura se tornou minha missão de vida.
Hoje, uso todo esse conhecimento para:
• Ajudar pessoas a transformarem dor em força
• Oferecer ferramentas reais de cura emocional
• Mostrar que é possível renascer mesmo depois das maiores perdas
O que parecia o fim foi, na verdade, o início de tudo. Minha jornada me ensinou que as maiores dores podem se tornar nossos maiores propósitos – e é isso que hoje ajudo outras pessoas a descobrirem.
2. Você já esteve em diferentes lugares de cuidado — seja na escola, como professora e coordenadora, seja agora como terapeuta integrativa. O que permanece em você, independentemente da função ou do ambiente em que atua?
O que permanece é o olhar atento para o ser humano. Na escola, eu cuidava do aprendizado e do potencial dos alunos. Hoje, como terapeuta, cuido das dores e travas que impedem as pessoas de viverem esse potencial.
A essência é a mesma: ver além do que aparece na superfície, não só o que a pessoa mostra, mas também o que ela esconde. É acolher, orientar e lembrar que ela é capaz.
A profissão mudou, mas o compromisso com o desenvolvimento e com o bem-estar do outro continua sendo a minha prioridade. A diferença é que agora eu também me incluo nesse cuidado.
“O custo do cuidado é sempre menor que o custo do reparo.”
3. A maternidade chegou em um momento diferente da sua vida. De que maneira essa experiência transformou sua forma de perceber a saúde mental e os afetos — tanto em si mesma quanto nos outros?
A primeira vez que me tornei mãe foi uma experiência que transformou radicalmente minha compreensão sobre saúde mental e relações afetivas. Em vez do esperado momento de celebração, vivi uma “maternidade às avessas” – precisei lidar com a perda da Beatriz às 38 semanas de gestação. Cada dia se tornou uma batalha, onde até o simples ato de levantar da cama parecia uma montanha intransponível.
Quando a Ester chegou anos depois, descobri que a maternidade podia trazer alegria, mas também uma complexa mistura de sentimentos. Aprendi na pele que:
Nenhum filho substitui outro: A dor pela Beatriz permanecia, mesmo no meio do amor pela Ester.
Saúde mental é processo: Não se trata de “superar”, mas de aprender a conviver com a falta
Os afetos são camadas: É possível amar profundamente e ainda sentir dor ao mesmo tempo.
Foi através dessas experiências que minha visão sobre cuidado emocional se transformou. Eu entendi que fraquejar não é fracasso, mas parte humana do processo. A fé deixou de ser sobre certezas e passou a ser sobre persistência; passei a enxergar as dores alheias com mais profundidade, sabendo que cada história tem camadas invisíveis e hoje não ofereço apenas técnicas, mas testemunho vivo – porque conheço na pele a solidão de quem acredita que sua dor não cabe em nenhum lugar.
Cuidar da minha saúde mental e manter a fé não apagaram as marcas do luto, mas criam uma ponte sobre esse abismo. Essa jornada não me ensinou apenas sobre perda, mas me trouxe um conhecimento íntimo do sofrimento que agora uso para guiar outras pessoas, mostrando que é possível encontrar significado mesmo nas paisagens mais devastadas pela dor.
é essa lição – duramente conquistada – que hoje transformo em ajuda concreta para quem ainda está no meio da tempestade.
4. Muitos falam em “recomeços”, mas poucos realmente se permitem vivê-los com coragem. O que você aprendeu ao se reinventar profissionalmente, trocando a escola pela escuta terapêutica?
Meu “recomeço” não foi uma escolha romântica – foi uma necessidade vital. Quando perdi minha filha Beatriz, já não atuava mais como professora, apenas coordenava. Mas nem isso consegui sustentar. E quando minha mãe partiu, desmoronei completamente. Foram anos de uma espécie de “morte em vida”, onde eu existia sem realmente viver.
Nesse deserto emocional, eu passei pela costura criativa como forma de terapia. Montei o Ateliê Patch & Ponto que cresceu e obteve reconhecimento por anos, mas algo essencial ainda faltava. Foi só quando encontrei a terapia – primeiro como consultante, depois como estudante – que senti estar recolocando os pés no chão. Esse processo não foi rápido: levou sete anos de reconstrução lenta, camada por camada.
Aprendi que recomeços profundos raramente são lineares. Eles chegam quando estamos mais frágeis, não quando estamos prontos. Exigem que deixemos para trás não apenas empregos, mas identidades inteiras. Tive que abandonar a segurança das instituições de ensino, a imagem da profissional sempre no controle, e abraçar a vulnerabilidade de quem reconhece suas próprias feridas para poder curar as dos outros.
Minha bagagem pedagógica não se perdeu – transformou-se. Hoje, quando escuto um cliente, não aplico técnicas, ofereço a sabedoria duramente conquistada de quem conhece o fundo do poço e descobriu como sair dele.
Hoje entendo que recomeços verdadeiros não são sobre virar páginas, mas sobre reescrever a história a partir das marcas que a vida nos deixou. Minha transição para a terapia não foi uma troca, foi um renascimento profissional – mais lento, mais doloroso, mas infinitamente mais autêntico do que qualquer plano que eu poderia ter traçado.
E talvez essa seja a maior lição: as melhores recomeços não são os que escolhemos, mas os que nos escolhem – e nos desafiam a crescer mesmo quando acreditamos não ter mais forças para isso.
5. A saúde mental vem ganhando espaço no debate público, mas ainda sofre preconceitos. Como você vê o papel das terapias integrativas nesse contexto? E o que é importante desmistificar para o grande público?
Vejo as terapias integrativas como pontes — elas conectam corpo, mente e energia. Não substituem o tratamento médico ou psicológico, mas potencializam os resultados porque olham para a pessoa como um todo.
O que precisamos desmistificar urgentemente é a ideia de que terapia integrativa é “substituta” de tratamento médico ou psicológico. Ela não é. É um complemento poderoso, que pode preencher lacunas que os métodos convencionais sozinhos não alcançam.
Também é hora de quebrar o preconceito de que cuidar da mente é “coisa de fraco” ou “de gente com problema grave”. Saúde mental é para todos, e o cuidado precisa começar antes da crise.
As terapias integrativas, também conhecidas como complementares, ajudam a aliviar o peso do dia a dia, liberar emoções acumuladas e resgatar o equilíbrio interno — tratando não só os sintomas, mas também a raiz do que está por trás deles.
6. Como colunista de Notibras, você terá a oportunidade de dialogar com muitos leitores semanalmente. Que tipo de conversa você pretende iniciar com eles — e qual silêncio você espera quebrar?
Vamos iniciar conversas que muita gente sente, mas nem sempre tem coragem de colocar em palavras. Falar de saúde mental sem tabu, sem julgamento e sem aquela linguagem complicada que afasta em vez de aproximar.
Desejo trazer temas que impactam a vida das pessoas de uma forma geral, mas de um jeito que elas se reconheçam no que estão lendo. Quero que o leitor se veja no texto e pense: “Isso é sobre mim. Eu preciso cuidar disso.”
E o silêncio que eu quero quebrar é justamente aquele que finge que está tudo bem quando não está. Muitas pessoas vivendo com ansiedade, tristeza, culpa ou sobrecarga emocional, com a vida travada, achando que tudo é difícil — e o pior, acreditando que isso é “normal” da vida adulta. Pode até ser comum, mas não é normal.
Aqui será um espaço para despertar a consciência dos leitores, porque só conseguimos transformar aquilo que reconhecemos. E, a cada semana, essa coluna terá um convite para esse despertar.
