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Maturidade ensina que a juventude tem muito a dizer

Era fim de tarde no Centro de Cultura de Curitiba. O frio se acomodava nas esquinas, mas dentro do espaço havia outro clima: o de vozes que incendiavam. Jovens mulheres, reunidas para recitar slam em preparação ao Agosto Lilás, tomavam o microfone como quem toma de volta a própria história. Cada palavra carregava marcas de silêncio e ferida, mas também a vibração da coragem.

O público, diverso e atento, acompanhava com estalos de dedos, criando uma música paralela ao ritmo dos versos. Entre um poema e outro, o ar parecia mudar de textura mais denso, mais vivo, como se aquelas palavras, ditas em voz alta, estivessem reorganizando o espaço ao redor.

Observei em silêncio, com o corpo atravessado pelo impacto da cena. Pensei nas mulheres da minha geração, nas irmãs que ainda lutam para sustentar pequenas revoluções íntimas, e nas que jamais tiveram palco. Diante de mim, no entanto, a juventude fazia ecoar uma certeza: a de que não há palavra que se perca quando dita em coletivo.

Saí de lá com a sensação de que esses encontros de fim de semana aparentemente simples, apenas jovens recitando poesia carregam uma potência que ultrapassa o instante. Talvez seja isso que a cidade, no seu movimento apressado, insiste em nos lembrar quando paramos para ouvir: que as coisas podem, sim, ter outro sentido. Basta se permitir estar presente no cotidiano e perceber que, às vezes, a revolução começa no gesto de escutar.

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