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Maurício, pai da Mônica, conta a sua história em livro

Eliana Silva de Souza

De garoto arteiro do interior de São Paulo a um dos maiores nomes nacionais da arte de fazer quadrinhos, Mauricio de Sousa decidiu contar ele próprio a sua história. Aos 81 anos, o pai da Turma da Mônica atendeu a pedidos e lança agora sua biografia Mauricio – A História Que Não Está no Gibi (Editora Sextante) que, segundo ele, deve ter outros volumes.

“O artista nunca acha que está bom o suficiente, creio que estão faltando mais dois livros (risos), o ideal seria fazer uma trilogia”, afirma o quadrinista que declara estar arquitetando uma segunda obra. “Estou querendo centrar mais na infância, muita coisa que eu fiz quando criança, não o que aconteceu, mas o que fiz, tem coisa que vale a pena falar mais.”

De leitura leve e simples, o lançamento traz o depoimento de Mauricio ao jornalista Luís Colombini, a quem relata diversas passagens de sua vida, começando pela infância, na cidade de Santa Isabel, em São Paulo, até o momento atual. Do começo ao fim, muita história da vida do artista, como, quando ainda pequeno, aproveitava o que tinha na pequena cidade.

“De arteiro fui para artista. Logicamente, criança que faz arte faz escondido, longe dos pais, avós, tios, e tem artes que mereciam ser contadas para as pessoas saberem como é que era a coisa naquele tempo, a liberdade que a gente tinha, com matagais, montanha, lugar para a gente brincar, o Rio Tietê era limpo, eu nadava nele, pescava”, conta com saudade Mauricio, que relata ainda algumas de suas façanhas, como a de caçar rã e saber preparar essa iguaria.

“Meu pessoal não permitia que colocasse sapo na panela, para eles rã era sapo, eu podia caçar à vontade, mas não era para levar para casa e preparar como eu queria, então, esperava todo mundo sair e aí preparava tudo escondido”, se diverte o cartunista. “Acho que tive uma infância privilegiada, com uma família legalzinha que tolerava minhas molecagens. Nasci em uma família que gostava de livros, de artistas, de manifestações artísticas, que me incentivou muito”, conta ele ao lembrar que sua mãe queria que ele fosse cantor de rádio, e quase conseguiu. “Se eu quiser, ainda canto”, afirma declarando que também sabia tocar, de ouvido, qualquer instrumento, menos violino, mas só não conseguiu isso até agora porque não parou para estudar.

Mauricio é filho do barbeiro Antonio Mauricio de Souza e da poeta Petronilha Araujo de Souza. Do pai, homem de múltiplas qualidades – poeta, jornalista, compositor, cantor, músico, desenhista, pintor e, mais adiante, também barbeiro -, teve essa vivência do mundo real, da mãe – criada para ser dona de casa, que cozinhava e costurava bem, além de gostar de ler e fazer poesias – herdou essa veia lúdica.

E, nas voltas que a vida dá, Mauricio, que começou a mostrar a vocação pelo desenho logo cedo, não conseguiu terminar o ensino fundamental e foi para o mercado de trabalho tentar a sorte de várias maneiras. Antes de emplacar seus desenhos, ele foi trabalhar em um grande jornal como repórter policial. Depois de um tempo, foi fazer o que queria, desenhar e publicar suas tirinhas. “Quando consegui passar para o setor de quadrinhos, fiz as historinhas em cima do que tinha vivido na infância, na época estava com meus 17, 18 anos, e as lembranças ainda eram bem vivas na memória”, conta.

Mauricio avalia que dessa forma conseguiu capturar o leitor infantil. “Esse público cresceu me levando junto e foi passando de uma geração para a outra. Tem gente de 60 anos que passa aqui e diz que aprendeu a ler comigo.”

Reconhecido internacionalmente, Mauricio de Sousa viajou pelo mundo e fez amigos entre os nomes mais consagrados das HQs, que puderam trocar experiências e influências. “Quem mais me inspirou em termos de narrativa foi Will Eisner, criador do personagem Spirit. Lá nos anos 1940, ainda jovem, eu pegava as historinhas dele, recortava, costurava e fazia meu próprio álbum para estudar seu estilo”, conta. “Depois de um tempo, ficamos amigos e ele me falava: ‘Mauricio, como você conseguiu tudo isso? e eu dizia, eu copiei você.” Outro nome de destaque é o japonês Ozamu Tezuka. “Também conheci o Tezuka, que é considerado o rei dos mangás e até combinamos de fazer alguma coisa juntos no futuro, infelizmente ele morreu, mas o que combinamos estou fazendo agora. Neste ano, vou lançar a Turma da Mônica jovem no Japão junto com os personagens dele, fazendo crossover.”

Tanto na vida profissional quanto pessoal, os números relacionados a Mauricio de Sousa são superlativos. São dez filhos, 11 netos e três bisnetos. Em 2016, Mauricio foi o segundo autor de maior vendagem no Brasil em livros, atingindo um milhão e meio de obras comercializadas. Soma também cerca de 10 milhões de leitores por mês somente na área de impressos.

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