O medo é uma coisa engraçada, se a gente parar pra pensar. Não no sentido literal de dar risada — embora, às vezes, dê — mas no sentido de ser um sentimento que, ao mesmo tempo que nos protege, nos faz passar umas vergonhas. E não estou falando aqui daquela fobia que te impede de sair de casa, de trabalhar, de viver. Tô falando daquele medo que aparece do nada, dá um friozinho na barriga, aquele calafrio leve que faz você olhar pros lados e pensar: será que sou só eu?
Tem gente que tem medo de palhaço. E não tiro a razão. Já viu um palhaço triste? É a definição visual do desconforto. Outros têm medo de avião. O que, aliás, faz até algum sentido: você entra numa cápsula metálica de 90 toneladas, que voa a 900 km/h a 10 mil pés de altura, com um saquinho de biscoito e um encosto de braço disputado. Medo de inseto? Natural também. Porque o mosquito não vem sozinho — ele vem com a promessa de dengue, zika, chikungunya e o fim do sono.
Mas o meu medo… o meu medo é de chuva. Isso mesmo. Chuva. Aquele fenômeno natural, essencial pra vida na Terra, que faz as plantinhas crescerem e as poças se multiplicarem. Eu sei que parece estranho. Eu mesma fico surpresa, às vezes. Mas, é só o céu escurecer, e eu já começo a avaliar rotas de fuga, pontos de abrigo, pensar se tem lona em casa, se o sapato é antiderrapante, se já fiz testamento.
Não sei dizer exatamente de onde isso veio. Talvez seja algum trauma da infância, tipo ter escorregado num barro e sido humilhada publicamente aos oito anos. Ou talvez seja pura neurose mesmo. O fato é que, quando chove, meu cérebro não pensa em poesia, em cheiro de terra molhada, em calmaria. Ele pensa em goteira, em enchente, em escorregador involuntário na calçada e em respingo de carro passando na poça, molhando a alma.
E é isso. Cada um tem seu medo esquisito. Recentemente viajamos pra Pernambuco, e, apesar das praias belíssimas com água quentinha, meu marido não entrou no mar porque tem medo de tubarão. Eu respeito. Eu não ando na rua quando começa a chover. A gente se entende nos nossos pânicos. No fim das contas, o medo é isso: um GPS emocional que grita “recalculando rota” toda vez que algo nos tira do eixo. Ou, no meu caso, que molha o eixo.
Então, se um dia você me vir fugindo em disparada só porque o tempo virou, não se preocupe. Não é o apocalipse. É só a minha previsão interna de pânico: 80% de chance de medo com pancadas de desespero isoladas.
