Quando eu morava em Porto Alegre, meu endereço era no Menino Deus, um bairro que guardo no coração. Sempre achei que havia algo de especial ali, como se o tempo corresse mais devagar. Caminhar pelas ruas de paralelepípedos me fazia atravessar não apenas o bairro, mas também épocas: parecia que cada pedra me levava a um tempo que já não existe mais, mas que de alguma forma ainda resiste.
O Menino Deus tem um jeito próprio de estar no mundo. Sinto que ele desafia a modernidade predatória que engole tantos lugares. Ali, até as ruas têm outro cheiro, um perfume que mistura memória, afeto e permanência. Era como se cada esquina me lembrasse que a vida pode ser mais simples, mais serena, mais cheia de sentido.
Caetano cantou sobre o Menino Deus, dizendo que daria sentido aos mundos. E é exatamente assim que eu sinto. Para mim, o bairro deu (e ainda dá) sentido ao meu mundo. É mais do que um lugar: é uma maneira de existir, de respirar e de acreditar que há espaços que conseguem preservar sua alma, mesmo em meio às mudanças implacáveis da cidade.
