Maria Elizabeth Teixeira da Rocha é Ministra do Superior Tribunal Militar desde 2007 e, em março deste ano, entrou para a história como a primeira mulher a presidir aquele tribunal. Um espaço que, durante mais de 200 anos, foi ocupado exclusivamente por homens. Só isso já seria digno de reconhecimento. Mas Maria Elizabeth foi além.
Durante um evento em memória de Vladimir Herzog, ela tomou uma atitude que exigiu coragem, dignidade e profundo compromisso com a verdade histórica: pediu perdão às vítimas da ditadura. Um gesto simbólico, mas poderoso, vindo exatamente de uma instituição que participou diretamente daquele período sombrio. Um gesto que aponta para maturidade democrática, para responsabilidade institucional e para humanidade.
Mas, como sempre acontece quando uma mulher rompe barreiras, o ataque não demorou. Dias depois, outro ministro do STM, Carlos Augusto Amaral, em um tom misógino, machista e completamente desrespeitoso, insinuou que Maria Elizabeth deveria “estudar um pouco mais”. É revoltante perceber como até mulheres em posições altíssimas, que dedicaram décadas de vida ao serviço público e ao estudo do Direito, ainda são tratadas como se não fossem competentes o suficiente. O episódio escancarou aquilo que muitas vezes tentam varrer para debaixo do tapete: mulheres sofrem violência simbólica mesmo nos mais altos escalões do poder.
Mas a história não termina aí. Felizmente, ainda existem homens honrados no Judiciário brasileiro. Ontem, o Ministro Presidente do STF Edson Fachin, prestou uma homenagem pública a Maria Elizabeth, reconhecendo a coragem do seu gesto e a relevância de seu compromisso com a verdade e com a memória do Brasil. É reconfortante perceber que, apesar de toda a misoginia, há quem compreenda a gravidade da História, quem valorize a justiça, quem reconheça a potência transformadora das mulheres.
E eu fico pensando: se até Maria Elizabeth, presidente do STM, enfrenta esses ataques, imagine quantas mulheres, em cargos muito menos visíveis, lidam com isso todos os dias. Sem testemunhas, sem homenagens, sem manchetes. Por isso, reconhecer, apoiar e amplificar gestos como o dela não é apenas justo. É necessário. É urgente. É parte da luta para que o respeito, a verdade e a equidade não sejam a exceção, mas a regra.
