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Miss Marple é simpática, mas não ganha muitas telas em nome de Agatha Christie

Luiz Carlos Merten

Completaram-se em janeiro 40 anos da morte de Agatha Christie e a chamada ‘dama do mistério’ permanece a autora mais publicada de todos os tempos, atrás somente da Bíblia e de William Shakespeare. Em termos de adaptações para cinema, porém, ‘Will’ permanece imbatível. Agatha possui a fama de não ser muito cinematográfica.

Miss Marple, afinal, é uma velhinha que decifra crimes complicados baseada só no que aprendeu sobre a natureza humana, observando os habitantes de St. Mary Mead. E Hércules Poirot prefere exercitar as células cinzentas a qualquer sugestão de ação física. Como consequência, os filmes adaptados de Agatha Christie têm mais conversa que movimento.

A mais prestigiada das adaptações é Assassinato no Orient Express, que Sidney Lumet realizou em 1974 e valeu a Ingrid Bergman seu terceiro Oscar, e o único como coadjuvante. O filme é elaboradamente narrado por meio de planos-sequência e tem Albert Finney na pele do detetive. Nem ele nem Peter Ustinov, de A Morte no Nilo e Assassinato Num Dia de Sol, correspondem à descrição de Agatha. São robustos e o Poirot dos livros é um dândi meio Santos Dumont, com o acréscimo da cabeça de ovo e os bigodes espetados.

Margaret Rutherford celebrizou uma Miss Marple excêntrica e divertida na série de George Pollock, por volta de 1960, mas nada tem a ver com a descrição da autora. Outras intérpretes do papel (Angela Lansbury, Penelope Wilton) também não correspondem à dos livros. Não importa.

A grande traição é que nenhum diretor conseguiu reproduzir o verdadeiro milagre (mistério?) de Agatha. Com rara economia de meios, ela toca uma intensidade e complexidade (estética e emocional) que só os maiores escritores alcançam.

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