Emoção buscando,
Em limiar pensamento,
Verso: adverso som.
Farejar a nascente oculta, adivinhar quem tocará a água por primeiro, antever por onde a água percorrerá e saciar a sede na fonte do devir. Poetar é mister de profetas.
No crepitar das profecias, o cheiro do futuro revê o amanhã. A inquisição não é santa contemplação: desvelar faz arder.
Inquirir é sentir o sol: fogo sagrado. Tocar palavras acesas, sorver o perfume de ancestral beleza, acariciar a natureza em troca que aquece e revigora.
O inquiridor inspira o Uno, toca o Múltiplo, vê a terra moldar-se em harmônicas linhas. Compreende o equilíbrio em Supremo Traço: aspira a poetar à Sua Imagem e semelhança.
Aragens de alteridade: ouvir, cheirar, sentir a mão que abana onde dói.
Ver aquele que vem… Ouvir o que fala ao coração. Tocar o que é compartilhado. Cheirar o perfume que espalhamos. Beber a celebração do diálogo.
Músicas, formas… Tudo pode ser arredondado, a palavra inclusive. Se conclusa, porém, enquadra-se em retilíneas. Quero pés de andar em texto. De cabeça erguida em música.
Que lástima é o juramento linear da bandeira eurocêntrica! Mais do que lastimada é a ausência tridimensional no objeto descrito! Resta dedilhar escultural carícia. Lendo imagem digital, traço semi – redondo afago, com pés de locomover palavras.
Sou palavra e caio sobre cabeças, impermeavelmente coloridas. Derramo-me coloridamente, em reflexos que não se esgotam, no esgoto.
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Poetar Merola Edna Domenica; De que são feitas as histórias; PP 37-38 Florianópolis 2014
