Efigênia chegou até a praia. E com ela o Moco. Cachorro de idade e parceiro de toda vida.
Moco corria pela areia do jeitão dele. Dois passos e um tropeço.
Efigênia corria junto. Foram tantos anos assim no mesmo ritmo.
Juntos testemunharam Collor imitando Jânio, e depois o plano que causou suicídios…
E os “caras pintadas” … E mais planos econômicos que encheram cofres ricos.
E dá-lhe “neoliberalismo”. Mas brilhou uma estrela que devolveu esperança e algo mudou. Depois veio a primeira presidenta da história da República e ela se atreveu a comercializar petróleo sem a bênção do Tio Sam. E tudo voltou à época dos coronéis.
E houve uma pandemia e com ela o negacionismo.
O desvario pelo voto impresso, os acampamentos frente aos quartéis… O golpe contra o estado de direito…
…
Passaram-se os anos e Efigênia e Moco ainda continuavam juntos quando chegou o tempo do descanso.
Efigênia conhecia cada palavra, pensamento e atitudes de Moco.
O cão pensava em “cachorres” e ela entendia em “humanes’.
Eram cúmplices de uma parceria sincera…
Naquele final de tarde eu estava sentado em minha cadeira de praia esperando o pôr do Sol.
Vi quando Efigênia e Moco passaram…
O Sol caindo e os dois na ponta do Costão de pedra.
De minha cadeira ainda pude ver o beijo de despedida que antecedeu o momento em que Moco pulou no mar.
