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Mulheres ‘saradas’ com silicone perdem espaço para beleza natural

Tendência, modernidade, novos padrões ou pura aceitação do corpo? O fato é que o perfil da mulher “gostosona” frequentemente explorado pelos comerciais e programas televisivos, principalmente na década de 90, tem aparecido menos na TV.

Atrizes da nova geração, como Sophie Charlotte, Isis Valverde, Isabelle Drummond, Bianca Bin, Jessika Alves, Bianca Comparato e Thais Fersoza, revela reportagem da Folha de S.Paulo, são exemplos de mulheres que não aderiram ao silicone, não são saradas, mas têm seus corpos cobiçados e não temem se desnudar em frente às câmeras.

Aos 29 anos, Bianca Comparato não temeu expor seus seios e protagonizar cenas quentes na minissérie “A Menina Sem Qualidades”, da MTV. No entanto, a atriz acredita que o boom de corpos sem intervenções estéticas é algo passageiro, mas que, sim, faz parte de uma tendência na qual tanto a TV quanto as indústrias têm investido.

“Já foi bonito e sensual [exibir] corpos com silicone, plásticas, vivemos esse ápice. E talvez por conta do exagero das indústrias, o público tenha ficado meio saturado. Mas acho que é cíclico e daqui a pouco o silicone volta. As marcas também entenderam isso [perfis naturais], e por isso é algo que já virou mainstream. Talvez seja uma tendência do momento”, afirmou ela.

Integrantes do time das “despeitadas felizes”, seios fartos definitivamente nunca estiveram nos planos da apresentadora Adriane Galisteu, 42 anos, e da atriz Thais Fersoza, 31. Mas acima de tudo, elas defendem a autoafirmação feminina independente de qualquer modelo.

“A mulher tem que estar feliz com peito, sem peito, magra ou gorda. Tem que se olhar no espelho e gostar. Fiz um teste quando fiquei grávida, amamentei quatro meses [naturalmente seu busto cresceu] e definitivamente não gostei. Prefiro estar sem peito, sou uma mulher que não tem nada de peito, nada de bunda, sempre fui assim e sempre fui feliz. Acho mais chique. Sou da época das despeitadas felizes. Honestamente prefiro que essa moda venha para ficar”, declarou Galisteu.

Para Thais, mais que um movimento, a aceitação feminina faz parte da contemporaneidade e representa uma atitude, uma postura diante das diferentes belezas. “As mulheres estão conseguindo se assumir como são, com seus defeitos e qualidades, sem terem a obrigação de serem a magrela, a gostosa ou a sarada. Mas acho que cada um tem o direito de fazer o que quiser com seu corpo. A mulher tem que se olhar no espelho e se gostar independentemente de ser moda peito pequeno ou peito grande”.

Capa de aniversário da “Playboy” em 2014, Jessika Alves foi convidada pela publicação justamente por fugir do biotipo de mulher que costuma estampar revistas masculinas. “Foi uma linda quebra de padrão, gostamos muito do resultado. Até gostaríamos que o natural voltasse como tendência mais forte, mas ainda não sentimos isso acontecer de uma forma mais intensa. O mercado publicitário ainda valoriza um bocado a fartura, a opulência, pelo visto a indústria do silicone ainda não precisa se preocupar”, analisou o diretor da “Playboy” Sergio Valente.

O ensaio de Jessika, inclusive, foi aprovado pelas mulheres, que presentearam os namorados com exemplares da revista e a elegeram como uma representante das mulheres comuns. “Cada mulher tem a sua vertente, sua beleza única. Quando me procuraram, vieram com essa ideia mais romântica e acho que combinou bastante, porque tenho um perfil mais feminino. Foi ótimo, uma capa bem comentada, de mudar estereótipos e padrões”, afirmou a atriz.

Como atriz, Comparato prefere garantir que seu corpo tenha diversas possibilidades, independente da personagem — magra ou gorda, doente ou saudável. ‘Mas claro que toda mulher pensa: ‘se meu peito fosse um pouquinho maior [risos]. É algo muito feminino. Já vi amigas minhas que colocaram silicone e viraram outras mulheres”, disse.

Jessika concorda e confessa que também teve o mesmo desejo na adolescência, quando via os seios das amigas crescendo e os seus “estacionados”. “Acho que toda mulher que tem seios menores um dia já parou para pensar: ‘será? (risos)’. Esta é uma parte muito feminina do corpo e acho lindo seio pequeno ou mesmo com silicone, quando combina com a mulher. Já tive vontade, mas não passou disso. Depois que você fica mais madura, se aceita e descobre sua sensualidade de outro jeito, vê que realmente não precisa daquilo. Mas nunca digo nunca. O importante é ficar feliz”.

O cirurgião plástico Marcus Vinícius dos Santos, responsável pela transformação de Carla Perez, explica que o padrão “Danielle Winits” já não faz tanto sucesso no consultório como fez na última década, mas a procura pelas próteses de silicone ainda continua grande.

“Nos últimos anos, a gente partia de uma prótese de 325/500 ml, atualmente o padrão médio é 280 ml. As mulheres já chegam ao consultório pedindo modelos menores,  sem aqueles exageros de 600 ml que já vimos”, disse o responsável pela Clínica Paulista de Cirurgia Plástica.

De acordo com o cirurgião plástico e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Luis Henrique Ishida, as próteses consideradas grandes (a partir de 300 ml) costumam dar alguns problemas nas pacientes e por isso o uso das menores está em voga.

“As mulheres têm procurado próteses menores e o motivo principal é a ‘queda’ que os silicones maiores provocam com o passar do tempo. Ter seios menores é uma consequência”, afirmou Ishida, salientando que tudo depende do biótipo de cada um. Ainda segundo o médico, o fator estético continua sendo o principal motivo da busca pelo procedimento — em 2014, as cirurgias plásticas de mamas foram as mais realizadas no Brasil.

“Mama para mulher é tudo. É a feminilidade, a sensualidade, está ligada a autoestima”, concluiu Marcus Vinicius.

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