Vivemos o dia a dia com uma postura despreparada e ansiosa, como se a vida nos devesse a concretização de cada desejo sonhado. Somos arquitetos de sonhos ancorados em nuvens, e, ao mesmo tempo, perambulando com lanternas toscas à procura de alguma luz.
Sonhamos com cousas concretas, com o amor e com a paz absolutas, com o sucesso, a saúde plena e muito dinheiro no bolso, como se fosse fácil.
Não é; na verdade, na vida de cada um “não há almoço grátis”.
Entretanto, esquecemos, ou fingimos esquecer, que a realidade é uma tela turva, um vitral estilhaçado em fragmentos de fatos concretos e ficção.
Ela não se apresenta como uma foto iluminada, mas como um painel de múltiplas interpretações, onde cada ser animado ou inanimado projeta sonhos e sombras. Insistimos na óptica bipolar: sucesso/fracasso, brilho/opaco, quente/frio, finito/infinito.
E seguimos pintores de molduras multicoloridas nos esquecendo do todo do quadro, via de regra, pastoso, misturado, de cores pouco definidas e repleto de desafios.
Definitivamente, viver não é brincadeira, não!
E quanto mais alta a árvore, maior o tombo do galho. O mergulho no abismo é o centro da vertigem real e humana.
Passados os anos, percebemos segredos que facilitam.
Sonhar, sim, mas com os pés presos no barro das estradas. Não perder a imaginação, o sonho, porém dominando a fina linha que separa realidade e ficção.
A incerteza talvez seja o princípio que nos move como seres carentes de desafios movidos a adrenalina.
E assim vamos pregando, costurando nossas estrelas de purpurina e brocados brilhantes no teto finito de um céu concreto do viver até que todo o mistério se dissipe magicamente feito fumaça de nossas infâncias.
……………..
Gilberto Motta nasceu e cresceu até a adolescência num circo teatro dos pais rodando pelo Brasil; estudou e tornou-se mestre e docente de comunicação. Aposentado, hoje, vive em um pequena pousada na Guarda do Embaú/SC de onde escreve suas garrafas de antialgorismos náufragos.
