Hoje revisitei o campus da Universidade Candido Mendes, onde me graduei em Direito. Foi como passar uma lâmina de barbear no meu átrio esquerdo, enquanto ela rasgava lentamente meu bom humor.
É estranho pensar em como algumas coisas do passado nos afetam, e hoje percebi (diferentemente da maioria dos graduados), o quanto a faculdade faz falta no meu cotidiano.
Estava retornando das minhas atividades laborais no escritório, mas fui tomado por uma vontade de caminhar um pouco até a Universidade, que se situa no mesmo bairro onde, presencialmente, desempenho meu ofício de advogado.
Ao chegar na Universidade, visualizei um silêncio incomum comparado com os tempos áureos, quando estudei. Vez ou outra ia, no turno da noite, assistir alguma palestra de um tema que considerasse interessante. Era cheio de alunos risonhos, brincalhões, tensos, preocupados, atrasados. Multicoloridos, com diferentes personalidades e trejeitos. Eu era um deles.
Hoje, na sombra de um tempo passado, um ou outro aluno vaga pelo campus. Alguns, sequer aparecem naquele semestre, pois estão no Ensino à Distância (EaD), vindo poucas vezes ao campus universitário.
Ao me deparar com aquele silêncio sepulcral, os risos, falas e diálogos, assim como os momentos marcantes dos meus amigos e colegas, atravessaram-me. Lembrei das idas e vindas para a faculdade com meu amigo Demétrius e como isso só fortaleceu nossa amizade. Lembrei dos meus grupos de amigos que durante aqueles 5 anos foram âncora e alma, que me sustentaram nas alegrias e tristezas. Lembrei dos mestres, que sempre se sentavam próximos à sala dos professores para tomar um café e conversarem sobre assuntos diversos.
Encostei meu ombro sobre um quiosque, onde lanchava com meus colegas, enquanto debatíamos sobre matérias de aula e questões de provas. Pensei em como tudo pode ser passageiro. E o pior de tudo: estar no mesmo lugar, mas não no mesmo tempo. Parecia que estava olhando uma imagem imperfeita do que foi. Uma voz sussurrou no meu ouvido nesse momento e disse: “Você pode até voltar pra cá, mas aqui não é o tempo onde você estava. Não será a mesma coisa. Não é o lugar, mas sim as pessoas”.
O reflexo do meu terno, cachos esvoaçantes e barba por fazer apareciam nas vidraças que separavam o corredor das salas individuais, respectivas de cada turma. Lá eu lembrei das fofocas, das gargalhadas, das lágrimas, das tensões, do desejo de vencer e dos aprendizados.
Neste momento, meu peito apertou e deixei de fitar. Andei em direção a algumas placas. Lembrei que a primeira coisa que fiz ao pisar na faculdade foi ver os nomes dos professores que lecionavam as disciplinas, assim como o horário e o dia da semana das aulas. Vi-me fazendo o mesmo novamente. Lá avistei novos nomes, e alguns, que continuavam os mesmos. Exceto o do meu querido Daniel Marchi que, por erro de impressão, escreveram Daniel “March”. Foi bom ver o nome dele novamente lá. Deu uma sensação de pertencimento e continuidade.
Por um momento, pensei no amor que tenho pela sala de aula e o prazer de estar dividindo experiências, tempo e conhecimento. Pensei até em conversar com o Coordenador. Quem sabe eu teria uma chance de lecionar? Mas pensei melhor… e talvez não. Eu acho que sou só um menino entrando nesse mundo de responsabilidades.
Sei da minha capacidade, do meu conhecimento e das minhas experiências, assim como aptidões, mas meu coração aguentaria ver todos eles novamente dentro do espectro de um tempo que passou? Os fantasmas de uma Era de Ouro? Todos eles, que não sabiam que estavam em um cenário perfeito para uma certa pessoa, que tinha ânimo e magia nos olhos, ao pegar uma caneta, um caderno e um Vade Mecum.
Um cenário de saudade nos tempos de hoje.
Um cenário nostálgico de quem tanto amou.
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Renan Damázio, carioca, é advogado e poeta, autor de “Emoções e Reflexões”.
