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Nada de novo nos céus, além dos aviões de carreira

Leonardo Mota Neto

O pai do prefeito eleito de Porto Alegre, Nelson Marchezan, deputado federal na era do regime militar, foi protagonista de uma das operações políticas mais complexas de que se tem notícia nos bastidores de Brasilia.

Também ingressou no folclore por causa da engenharia que o envolveu. Sobretudo, a engenharia aérea.

Eleito deputado federal em 1974 e repetindo em 1978, o gaúcho Nelson Marchezan tornou-se membro da copa e cozinha do presidente João Figueiredo, que chegou a cogitar no nome dele para seu sucessor na Presidência da República, o primeiro civil.

Tudo por causa do seu temperamento afogueado de gauchismo. Um excelente tribuno e ardoroso defensor do regime militar em seus discursos.

Figueiredo destinou-lhe uma missão: seu governo vivia o risco de perder o comando da Câmara dos Deputados para um político – o potiguar Djalma Marinho -considerado tolerante demais com as esquerdas.

Marchezan, que havia migrado da Arena para o PDS, presidido por José Sarney, foi o nome escolhido para enfrentá-lo. Isso foi no começo de 81. Os mais experientes calculadores de votações no plenário da Câmara acusavam um panorama indefinido. Pau a pau.

A votação estava marcada para uma segunda-feira. O governo precisava a esvaziar a presença maciça da bancada do Nordeste simpática a Djalma. O que fizeram Sarney e seus articuladores do PDS e do Palácio do Planalto?

Fizeram um acordo por debaixo dos panos com as companhias aéreas: que os aviões que vinham do Nordeste para Brasilia sofressem atrasos por algum motivo alegado, técnico, “overbook” ou climático.

E assim foi feito. Nunca se viu tantos atrasos em voos num só dia. Os políticos se agitavam, presos a bordo dos aviões nas pistas dos aeroportos.

Marchezan foi eleito, graças aos aviões de carreira de que já falava o Barão de Itararé:

– Nada de novo nos céus, além dos aviões de carreira…

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