Dizem que não há registros escritos, apenas murmúrios que sobrevivem ao vento. Alguns juram que já sentiram sua presença nas madrugadas em que a lua se esconde atrás de nuvens pesadas. Outros, mais céticos, afirmam que tudo não passa de invenção de velhas beatas para assustar crianças desobedientes.
A Confraria dos Bruxos seria uma irmandade secreta, tecida em sombras e silêncios, formada por homens e mulheres que carregam consigo segredos antigos, herdados de tempos em que a palavra ainda tinha o poder de curvar a realidade. Não vivem juntos, não se encontram em praças públicas, mas se reconhecem pelo olhar, por um gesto discreto, pela entonação de uma prece que nunca aparece nos livros sagrados.
Reza a lenda que, a cada mudança de estação, eles se reúnem em algum ponto esquecido do mundo – uma clareira enluarada, uma igreja em ruínas, um castelo abandonado – para partilhar saberes e reafirmar o pacto de silêncio. Nesses encontros, não há risos, apenas o sussurro de fórmulas, o tilintar de cálices e o cheiro adocicado de ervas queimando.
Ninguém sabe se é verdade, mas o certo é que, em vilarejos distantes, quando o leite azeda sem motivo ou quando uma colheita floresce além do esperado, sempre se comenta: “foi a mão da Confraria”.
Talvez seja apenas mito. Talvez seja só a imaginação humana, sedenta de mistério, inventando histórias para não admitir que o mundo é frio e previsível. Mas quem ousa duvidar completamente, quando a noite cai e os ventos assobiam nos telhados?
Afinal, como já disse um velho cronista, não é preciso acreditar nos bruxos para sentir que eles estão por perto.
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Anabelle Santa’cruz é Editora de Oráculos
