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Não Romantizamos Durezas

Não romantizamos pessoas difíceis. Nem essa grosseria disfarçada de sinceridade, nem essa mania de achar que “falar tudo o que pensa” é sinônimo de coragem. Nós já entendemos, com o tempo, que bravura de verdade não está no tom alto, mas na sensibilidade. Não está em ferir, mas em cuidar.

Durante muito tempo, fomos ensinados a achar bonito aquilo que nos machucava. A confundir frieza com força, impulsividade com autenticidade, indiferença com maturidade. E quantas vezes engolimos essa mentira achando que era o “normal” das relações humanas? Quantas vezes nos convencemos de que carinho demais era fraqueza e que a falta de afeto era sinal de alguém “experiente”?

Hoje, amadurecendo na marra, descobrimos algo simples e libertador: não há nada melhor que gente atenciosa, disponível e recíproca.

Gente que fala, mas também ouve. Que pensa antes de atravessar o outro. Que sabe medir as palavras porque entende que o mundo já é duro o bastante. Gente que, mesmo cansada, escolhe ser gentil não porque é fácil, mas porque é necessário.

E quando encontramos essas pessoas, percebemos que foram elas que nos ensinaram o que realmente importa. Não foram os difíceis, os grosseiros, os que se orgulham de “não levar desaforo para casa”. Foram aqueles que permanecem, que acolhem, que seguram a conversa com cuidado. Aqueles que nos devolvem a fé no convívio, na amizade, no amor, no coletivo.

É curioso como a vida muda quando paramos de chamar de “temperamento forte” aquilo que, na verdade, é falta de responsabilidade emocional. E quando paramos de aceitar que nosso coração sirva de saco de pancadas para quem nunca aprendeu a lidar com os próprios defeitos.

Hoje, finalmente, preferimos a doçura consciente à sinceridade cruel. Preferimos a troca ao desgaste. Preferimos olhos que acolhem a bocas que ferem. Preferimos a maturidade emocional ao barulho do ego.

E quando fazemos essa escolha, o caminho fica mais leve. As relações ficam mais limpas. E a vida, mesmo nos dias mais difíceis, começa a caber melhor dentro da gente.

Porque no fim das contas, a verdade é simples: sempre haverá espaço para quem sabe cuidar, e nunca haverá lugar para quem insiste em ferir.

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